🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Áudios difundem desinformação sobre situação da água no Rio

Por Amanda Ribeiro e Luiz Fernando Menezes

15 de janeiro de 2020, 11h14

Não é verdade que um especialista em microbiologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) tenham afirmado que a água distribuída pela Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) no Rio de Janeiro estaria contaminada por excesso de coliformes fecais ou por um vírus, como dizem dois áudios que circulam principalmente no Whatsapp. As duas instituições informaram que nenhum de seus pesquisadores é responsável pelas informações difundidas.

Em nota, a Fiocruz disse que não fez qualquer análise de amostra da água até o momento. Já a UFRJ informou que, em breve, divulgará uma carta unificada de pesquisadores da universidade sobre o estado da água fornecida pela Cedae.

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FALSO

Meu marido é biólogo da Fiocruz. A Fiocruz foi proibida de falar sobre o risco que tá acontecendo na água do Rio de Janeiro. Os noticiários estão anunciando 30% do risco. É muito mais grave do que a gente pode imaginar. A água do filtro não funciona: o vírus passa. Tem que ferver a água (...).

Pessoal, eu conversei com uma amiga minha agora, tava tentando falar com ela desde ontem, ela me ligou. Ela é do departamento da UFRJ de microbiologia e ela é especialista em microbiologia da água. Então o que ela me disse é que a água realmente tá contaminada e a população não está recebendo a informação correta. O que ela disse é o seguinte: existe uma quantidade enorme de coliformes fecais na água e nitrato de prata (...)

Dois áudios que circulam no WhatsApp afirmam que pesquisadores da UFRJ e da Fiocruz teriam alertado que a água distribuída pela Cedae no Rio de Janeiro estaria imprópria para consumo devido a uma contaminação por coliformes fecais ou por um vírus. De acordo com as duas peças de desinformação, a população não estaria recebendo a informação correta, e a situação da água seria muito mais grave do que a noticiada. No entanto, em notas divulgadas em seus sites, as duas instituições negaram que os alertas tenham partido de seus pesquisadores.

No caso da UFRJ, uma mulher afirma no áudio que uma amiga é pesquisadora do Instituto de Microbiologia da universidade e teria dito que análises da instituição encontraram “uma quantidade enorme” de coliformes fecais e nitrato de prata na água, o que a tornaria imprópria para o consumo. Em nota publicada na última terça-feira (14), o Instituto de Microbiologia esclareceu que “nenhum docente da unidade emitiu essa mensagem e outras contidas no áudio”. O instituto também informou que está em contato com outros núcleos da UFRJ para emitir uma carta unificada sobre o estado da água na cidade.

No áudio sobre a Fiocruz, uma mulher que se diz casada com um pesquisador da fundação afirma que a instituição foi proibida de falar sobre os riscos existentes no consumo da água e que os noticiários estão trazendo apenas “30% do risco”. Segundo ela, a água está contaminada por um vírus que não é barrado por filtros. A Fiocruz, em nota publicada em seu site também na última terça-feira (14), desmentiu as informações e disse que “até o presente momento, não foi realizada qualquer análise de amostra de água” pela instituição.

Situação atual. Desde o início do ano, moradores do Rio de Janeiro têm reclamado da qualidade da água fornecida pela Cedae, que estaria com gosto de terra, coloração barrenta ou aspecto sujo. As queixas já partiram de seis cidades do estado e de 62 bairros da capital, conforme levantamento do jornal O Globo.

No dia 7 de janeiro, a Cedae emitiu uma nota afirmando que encontrou em amostras de água a presença da substância orgânica geosmina, que, segundo a companhia, não é prejudicial à saúde. O último comunicado sobre o assunto foi publicado na última quinta-feira (9) e, segundo a empresa, os testes mostraram que a água está própria para consumo. Ainda assim, a Cedae disse que aplicará carvão ativado pulverizado no início do tratamento para reter a geosmina.

Especialistas, no entanto, contestaram as informações apresentadas pela companhia, conforme já relatado por Aos Fatos em checagem anterior, publicada na segunda-feira (13). O professor de microbiologia da UFRJ Marco Miguel, por exemplo, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que quando a água tiver cheiro forte de terra, turbidez ou coloração alterada é recomendado tomar apenas água mineral.

Nesta semana, representantes do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) vistoriaram reservatórios da Cedae e coletaram amostras da água. Segundo o jornal O Globo, os resultados da análise devem ficar prontos nos próximos dias.

Referências:

1. UFRJ
2. Fiocruz
3. O Globo (Fontes 1 e 2)
4. Cedae (Fontes 1 e 2)
5. Aos Fatos
6. Folha de S.Paulo


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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