É falso que Papa Francisco liberou até churrasco na Páscoa para os católicos

Por Marco Faustino

28 de março de 2024, 13h37

Não há registros públicos de que o Papa Francisco tenha dito que os católicos podem comer o que quiserem na Páscoa, diferentemente do que tem sido afirmado por publicações nas redes. Aos Fatos não localizou quaisquer declarações de teor igual ou semelhante feitas por Francisco na imprensa e no acervo de mensagens do pontífice, no site do Vaticano.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 22 mil compartilhamentos no Facebook e 1.500 curtidas no Instagram até a tarde desta quinta-feira (28).

Leia mais
WHATSAPP Inscreva-se no nosso canal e receba as nossas checagens e reportagens

Selo falso

Comam o que quiserem na Páscoa, o sacrifício não está no estômago, mas no coração. Eles abstêm-se de comer carne, mas não falam com os irmãos ou familiares, não vão visitar os pais ou pesa-lhes atendê-los. Não partilham a comida com os necessitados, proíbem os filhos de verem o pai, proíbem os avós de verem os netos, criticam a vida dos outros, espancam a mulher etc.. Um bom churrasco ou um guisado de carne não vai fazer de você uma pessoa ruim, assim como um filé de peixe não vai fazer de você santo. Melhor procurarmos ter um relacionamento mais profundo com Deus através de um tratamento melhor ao próximo. Sejamos menos soberbos e mais humildes de coração [Papa Francisco]

Diferentemente do que afirmam posts nas redes, o Papa Francisco não disse que os católicos podem comer o que quiserem na Páscoa

Posts nas redes atribuem de maneira enganosa ao Papa Francisco uma mensagem que orienta os católicos a comerem “o que quiserem na Páscoa” e diz que “um bom churrasco ou um guisado de carne” não tornará o fiel uma pessoa ruim. Por meio de pesquisa na imprensa e no acervo de mensagens do pontífice no site do Vaticano, Aos Fatos não localizou qualquer declaração semelhante desde que Francisco iniciou o pontificado, em 2013.

Em uma mensagem divulgada em fevereiro para marcar a Quaresma (período de 40 dias que antecede a Páscoa), o Papa Francisco não faz qualquer orientação sobre o consumo de alimentos. Nela, o pontífice versa sobre a liberdade e diz que a Quaresma é um “tempo de conversão, um tempo de liberdade”.

Outro texto, divulgado este mês sobre a Semana Santa, contém somente uma mensagem de esperança e alento à comunidade cristã da Terra Santa — uma área sagrada para os cristãos composta por territórios de Israel, Palestina e Jordânia.

Leia mais
Nas Redes Papa Francisco não defendeu sacrificar alcoólatras e autistas para evitar mudanças climáticas
Nas Redes Papa Francisco não defendeu que ladrões roubem ricos para conter avareza

Tradição. De acordo com a tradição cristã, a Sexta-feira Santa é uma data reservada para reflexão e penitência em razão da morte de Jesus Cristo. Nesse dia os católicos costumam substituir a carne vermelha ou de frango por peixe. Segundo o Código do Direito Canônico, no entanto, a abstenção do consumo de carne deve ser feita pelos católicos em todas as sextas-feiras do ano que não coincidam com solenidades, na Quarta-feira de Cinzas, e na Sexta-feira Santa.

No Brasil, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) permite substituir a abstinência de carne por uma obra de caridade, um ato de piedade ou trocar a carne por um outro alimento, o que também é previsto no código canônico.

Recorrência. São recorrentes as peças de desinformação que atribuem declarações ao Papa Francisco. Em checagens anteriores, Aos Fatos verificou que o pontífice não defendeu que ladrões roubassem os ricos para conter a avareza, tampouco apoiou o sacrifício de alcoólatras e autistas para evitar mudanças climáticas.

Esta peça de desinformação também foi checada no Reino Unido pelo Full Fact, nos Estados Unidos pelo USA Today, e em Portugal pelo Polígrafo. No Brasil, a AFP, o Estadão Verifica, e o UOL Confere publicaram desmentidos semelhantes.

Referências:

1. Vaticano (1, 2, 3 e 4)
2. iCatólica
3. CNBB
4. Sociedade Brasileira de Canonistas
5. Aos Fatos (1 e 2)

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.