Posts manipulam vídeo para alegar que Bolsonaro defende abuso sexual de crianças

Por Marco Faustino

19 de junho de 2024, 18h01

Não é verdade que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu o abuso sexual de crianças e a gravidez infantil em discursos no passado. As peças de desinformação recortam uma fala para suprimir o trecho em que o político deixa claro discordar dessas práticas que, segundo ele, seriam tradição entre imigrantes no Brasil. No mesmo vídeo, foi incluída uma declaração verdadeira do ex-presidente sobre uma interação com adolescentes venezuelanas em uma comunidade de Brasília.

Publicações com o vídeo fora de contexto enganoso acumulavam 1.100 curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quarta-feira (19). As peças enganosas circulam também no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).

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Selo falso

'Se namorar uma filha nossa de dez anos de idade e engravidá-la, pode, porque é a tradição de muita gente aí fora namorar e engravidar menina de dez anos de idade.'

Posts compartilham vídeo com fala de Bolsonaro fora de contexto para fazer crer que ex-presidente defende o abuso sexual e a gravidez infantil

Posts nas redes enganam ao compartilhar um vídeo com duas declarações de Bolsonaro — uma fora de contexto e uma verdadeira — para alegar que o ex-presidente defende o abuso sexual de menores e a gravidez de crianças e adolescentes.

O primeiro vídeo exibe um discurso de agosto de 2017, época em que Bolsonaro atuava como deputado federal pelo Rio de Janeiro. No registro original, publicado no canal do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) no YouTube, o parlamentar critica a política de imigração que, segundo ele, permitiria que estrangeiros namorassem e engravidassem crianças de dez anos.

“O Brasil é um país sem fronteiras. Se parar um navio aqui do lado de fora agora e chegar 1 milhão de caras nadando aqui, vocês não podem fazer nada. É direito deles. E se quiser namorar uma filha nossa de 10 anos de idade e engravidá-la, pode, porque é a tradição de muita gente aí fora, namorar, engravidar menina de 10 anos de idade”, afirmou o político.

Diferentemente do que foi dito por Bolsonaro, estrangeiros que chegam ao Brasil na condição de imigrantes, refugiados ou turistas devem obedecer à lei do país e, portanto, não podem se casar com menores de 16 anos. Em relação a engravidar menores de idade, a lei determina que quaisquer “atos libidinosos” com menores de 14 anos são considerados estupro de vulnerável. A pena nesses casos é de oito a 15 anos de reclusão.

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Já o segundo vídeo mostra outra fala de Bolsonaro, sem relação com a anterior, durante uma entrevista em outubro de 2022, seu último ano como presidente da República. Na ocasião, ele descreveu um encontro com adolescentes venezuelanas na capital federal e sugeriu que as jovens estariam se prostituindo. Em nenhum momento do vídeo, no entanto, o ex-presidente diz que apoia o abuso sexual ou a gravidez infantil.

“Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado em uma comunidade (...) Pintou um clima, voltei: 'Posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [em um] sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas”, disse.

Na época, uma reportagem do UOL mostrou que, na verdade, as adolescentes em questão faziam parte de um projeto social que transformou um abrigo de imigrantes em um salão de beleza.

Dois dias após a reportagem, Bolsonaro divulgou vídeo em que pediu desculpas: “Se as minhas palavras, que por má-fé foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas”.

Referências:

1. YouTube (1 e 2)
2. Casa Civil da Presidência da República (1, 2 e 3)
3. Conjur
4. UOL (1 e 2)

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