Montagem sobre foto Antonio Augusto/Secom/TSE

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Um mês após nova política, Twitter mantém posts sobre fraude eleitoral sem alerta de desinformação

Por Débora Ely, Ethel Rudnitzki e João Barbosa

23 de maio de 2022, 18h04

Mais de um mês após o Twitter anunciar medidas para combater a desinformação eleitoral no Brasil, postagens com alegações falsas sobre o processo de votação circulavam sem qualquer alerta na plataforma. Dos 186 tweets enganosos sobre o tema identificados pelo Radar, e publicados entre 6 e 13 de maio, apenas seis haviam recebido sinalização de que continham desinformação. Após ser contatado pela reportagem, o Twitter adicionou selos a outras 130 publicações detectadas (leia a nota no final deste texto).

Signatário do Programa de Enfrentamento à Desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o Twitter atualizou, em 4 de abril, sua Política de Integridade Cívica no Brasil devido à aproximação do pleito de outubro. As regras preveem a possibilidade de inclusão dos rótulos “Enganoso” ou “Informe-se” em conteúdos com afirmações falsas ou enganosas que possam prejudicar a confiança nas eleições.

Os tweets marcados têm visibilidade reduzida e, em alguns casos, ficam bloqueados para curtidas e compartilhamentos. Perfis reincidentes podem ser bloqueados temporariamente ou suspensos. Além disso, os selos direcionam os usuários para uma página com fontes que o Twitter classifica como “seguras”, como TSE, imprensa profissional e checadores.

DIVERGÊNCIAS

O levantamento do Radar identificou divergências na aplicação da política de alertas do Twitter. Isso porque posts com a mesma alegação ou até mídias idênticas circulavam na plataforma com e sem rótulos que indicam a presença de desinformação.

Um exemplo está em tweets que continham um vídeo descontextualizado no qual um representante da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais) cita falhas encontradas em urnas eletrônicas nos testes de segurança de 2016 e 2017 — os problemas foram constatados em um ambiente controlado e corrigidos posteriormente pelo TSE.

Em 9 de maio, o lutador de MMA Renzo Gracie compartilhou a gravação com a mensagem “Última palavra em fraude nas urnas”, e seu tweet foi sinalizado com o selo “Informe-se”. O mesmo conteúdo foi disseminado no dia seguinte pelo cantor Netinho (PL), pré-candidato a deputado federal na Bahia, e circulou durante 10 dias sem nenhum alerta. Após ser questionado pelo Radar, o Twitter marcou o post de Netinho como “Enganoso”.

Imagem mostra posts com e sem alerta do Twitter

Gracie e Netinho foram procurados, mas não retornaram até esta publicação. O Twitter não esclareceu os motivos da discrepância — eventuais violações na plataforma são detectadas por meio de tecnologias que usam aprendizado de máquina e pelo monitoramento de equipes internas e de parceiros que sinalizam possíveis infrações.

FRAUDES

A maioria dos posts enganosos mapeados pelo Radar (125 tweets com 129.490 interações) trazia alegações genéricas de que as urnas eletrônicas são vulneráveis ou de que apenas uma fraude eleitoral reconduziria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto. Como Aos Fatos já mostrou, o sistema de votação funciona no Brasil desde 1996 sem que tenham sido registradas irregularidades.

Destas mensagens, somente uma havia sido sinalizada como enganosa pelo Twitter. Posteriormente, a plataforma marcou outras 88 similares como desinformativas.

Os demais tweets (61, que somaram 45.863 interações) traziam afirmações que já foram desmentidas pelo Aos Fatos e por outras iniciativas de checagem, como a de que as urnas eletrônicas não são auditáveis, a de que a contagem de votos acontece em uma sala secreta no TSE e a de que Bolsonaro venceu as eleições de 2018 no primeiro turno.

Cinco desses posts haviam recebido os selos Enganoso ou Informe-se. Após os questionamentos encaminhados pelo Radar, a plataforma incluiu marcações em outros 42.

O Twitter informou que “analisou os conteúdos encaminhados pela reportagem e tomou medidas naqueles que violavam suas regras, especialmente a Política de Integridade Cívica”. Segundo a plataforma, “o objetivo desta política é garantir que o debate público que acontece no Twitter não interfira ou manipule a participação das pessoas nas eleições. Portanto, essa política não prevê atuação sobre todo tipo de conteúdo político, como opiniões, declarações enganosas, imprecisas ou polarizadas sobre candidatos e partidos”.

A empresa ainda disse que seus ”sistemas estão continuamente sendo aprimorados para incluir novas narrativas, motivo pelo qual começamos a implementar a Política de Integridade Cívica antes do período eleitoral oficial” e que continua a se dedicar para melhorar a detecção.

METODOLOGIA

O Radar coletou, por meio API pública do Twitter, postagens que continham termos relacionados à desinformação eleitoral, como “fraude nas eleições” e “urnas inauditáveis”, publicados entre 6 e 13 de maio. Na sequência, a reportagem analisou quais conteúdos continham desinformação relacionada ao processo de votação brasileiro e quantos deles haviam sido sinalizados como enganosos pela plataforma. Posteriormente, os posts com alegações falsas foram enviados à empresa.

Referências:
1. Twitter (1, 2 e 3)
2. TSE
3. Aos Fatos (1, 2, 3, 4 e 5)

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.