Méuri Elle

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2024. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Falta de transparência de algoritmos é peça central em apurações envolvendo redes sociais

Por Alexandre Aragão

24 de janeiro de 2024, 18h51

A Plataforma de hoje é sobre os algoritmos que selecionam o que cada usuário vê e a relação deles com apurações envolvendo redes sociais.


A newsletter Plataforma chega ao seu email toda quarta-feira.

Assine de graça e receba análises exclusivas.


🔀 É o algoritmo

Nesta semana, a Polícia Federal enviou um relatório ao STF (Supremo Tribunal Federal) concluindo que há indícios de que o influenciador Bruno Aiub, vulgo Monark, descumpriu decisão do tribunal.

Em agosto, o ministro Alexandre de Moraes já havia determinado um novo bloqueio de perfis de Monark nas redes e uma multa de R$ 300 mil, citando reportagem do Aos Fatos que revelou que ele e o blogueiro foragido Allan dos Santos usavam o Spotify para se evadir da Justiça.

Casos de influenciadores que deveriam ter tido as contas bloqueadas e continuaram a disseminar desinformação já ocorreram em outras plataformas. No ano passado, o algoritmo do YouTube recomendou os canais de Barbara Destefani, Rodrigo Constantino, Paulo Figueiredo e Paula Marisa — todos alvos de decisões judiciais.

Leia mais
Investigamos Sem previsão de regulação, Spotify vira reduto de desinformadores banidos de outras redes
Investigamos Canais no YouTube somaram 31 milhões de views mesmo após bloqueio pelo Judiciário

Em outra frente, o MPF (Ministério Público Federal) confirmou a abertura de uma investigação para apurar denúncia anônima contra o Kwai, cujo conteúdo coincide com informações publicadas em reportagem da piauí.

Segundo a revista, a empresa “clonou contas, impulsionou presidenciáveis e pagou por conteúdos desonestos em sua escalada até os 48 milhões de usuários no Brasil”.

O Aos Fatos é citado em dois trechos do texto. No primeiro, a piauí menciona reportagem de julho de 2022 que mostrou que vídeos desinformativos publicados por Jair Bolsonaro (PL) acumulavam 13 milhões de visualizações na plataforma àquela altura.

Na segunda citação, o Kwai disse que “tem uma parceria com a agência de checagem de informações Aos Fatos, que ajuda na identificação de materiais passíveis de banimento”.

Procurado pela piauí, o Aos Fatos informou que a parceria “consiste em checar vídeos encaminhados pelo time de moderação da plataforma” e esclareceu que “não participamos de decisões de moderação”. “Ou seja, quem determina se uma publicação fica ou sai do ar é o Kwai.”

O escrutínio sem precedentes pelo qual passa a plataforma de vídeos curtos, principal rival do TikTok no país, ocorre no momento em que ela tomou o lugar da adversária como rede oficial do reality show de maior audiência do país, o Big Brother Brasil. Antes presente apenas na Fazenda, da Record, o Kwai chegará agora a novos públicos.

Com novas audiências, deveriam vir responsabilidades redobradas. E o Núcleo mostrou que o “Kwai está infestado de conteúdo que sexualiza menores”, conforme reportagem publicada nesta quarta-feira (24). Em 40 sessões de uso na plataforma, conteúdos do tipo apareceram em todas, algumas logo que o aplicativo era aberto.

Em resposta, a empresa disse que “não produz conteúdo e não compactua com qualquer temática que prejudique a integridade de seus usuários” e “que está em constante evolução, sempre buscando novas formas de melhorar seus mecanismos e políticas para garantir um ambiente digital cada vez mais seguro e saudável para todos os usuários”.

A investigação do MPF promete desdobramentos, e o tema continuará em pauta — o Aos Fatos trará mais notícias em breve.

Em países ocidentais, a desconfiança sobre o caminho que cada conteúdo faz é maior em relação a plataformas de origem chinesa. Durante o debate sobre um possível banimento do TikTok nos Estados Unidos, que ganhou tração sob Donald Trump, vozes relevantes expressaram receio de que a China poderia usar o poder da timeline para influenciar de forma negativa a visão de uma geração de americanos em relação ao país.

No entanto, não é necessário ir tão longe para admitir a influência óbvia que esses códigos exercem sobre as pessoas. Em uma tirinha de André Dahmer, o personagem Algoritmo enumera: “Ela curte ioga. Gosta de gatos, cerâmica, constelação familiar e comida sem glúten”. E então, conclui: “Isso quer dizer que ela vai comprar o curso de encadernação artesanal”.

Leia mais
Análise Fala de Moraes sobre cassar candidatos que usarem IA é prenúncio de embate com políticos

O tema da transparência algorítmica apareceu em audiência pública promovida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na terça (23), para discutir resoluções do tribunal para as eleições deste ano. O advogado Fernando Rodrigues Peres propôs que a Justiça Eleitoral seja capaz de, no mínimo, auditar o funcionamento dos algoritmos de recomendação de conteúdo.

O debate deve se intensificar nesta quinta-feira (25), quando a pauta principal será o uso de inteligência artificial para fins eleitorais — o que, em sentido amplo, inclui os conteúdos publicados pelos candidatos nas redes sociais.

Seja o objetivo final aumentar a audiência, extrair dinheiro, convencer eleitores ou promover campanhas de influência estrangeira — é o algoritmo, a caixa-preta da recomendação, que vai garantir o alcance e executar o serviço.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.