🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Julho de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Threads, da Meta, quer oferecer ‘segurança de marca’ que Twitter não irá recuperar com Musk

Por Alexandre Aragão

12 de julho de 2023, 18h27

Meu nome é Alexandre Aragão, sou editor-executivo do Aos Fatos, e esta é a primeira edição da Plataforma — que trará textos exclusivos, toda quarta-feira, direto na sua caixa de entrada.

EM 5 PONTOS:

  • O Threads tem a energia que as marcas gostam;
  • No “ano da eficiência”, Zuck oferece segurança;
  • Enquanto isso, Musk limita o Twitter e perde audiência;
  • O que a moderação de conteúdo tem a ver com isso;
  • O que a adoção de protocolo aberto indica sobre o futuro das redes.

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🧶 A trama da Meta

Valendo-se da força gravitacional do Instagram, que tem 1,2 bilhão de usuários mensais ativos (15% da população mundial), o clone do Twitter lançado pela Meta ultrapassou 100 milhões de inscritos na segunda-feira (10). O Threads foi vendido por gente do estrato social de Luciano Huck como uma espécie de gêmeo bom da rede de Elon Musk — o que não é o caso.

Mark Zuckerberg comunicou que 2023 seria “o ano da eficiência” e, em março, demitiu 10 mil funcionários, além dos 11 mil dispensados em novembro. Com a força de trabalho reduzida em 25%, a Meta apresentou resultado no primeiro trimestre melhor que o esperado por analistas, com aumento na receita em comparação ao período do ano passado e lucro líquido de US$ 5,7 bilhões.


‘Já tô gostando.’ Luciano Huck escreve no Threads que nova rede da Meta será ‘menos beligerante’ do que o Twitter (Reprodução)

Ao passo em que nega ter desistido de emplacar o metaverso, Zuck põe a equipe de vendas para trabalhar nos produtos que tem pra hoje.

  • Antes do lançamento do Threads, “creators” e marcas foram “brifados”, como diriam publicitários — a empresa antecipou informações a profissionais;
  • A nova plataforma dá ao usuário a opção de seguir todas as contas que já segue no Instagram, o que beneficia influenciadores;
  • Virginia foi a 1.085ª pessoa a entrar e passou dos 2 milhões de seguidores emanando a aura energética que os anunciantes gostam: “Galera, eu tô orando para aqui não virar um Twitter, sabia?!”, ela escreveu;
  • “Fiz parte do primeiro squad de influenciadores fazendo publi aqui”, comemorou Thelminha, usuária nº 1.363. “Agora prometo entregar conteúdo e não só publi, combinado?”;
  • A Unilever contratou talentos da Mynd e da Banca Digital para promoverem um produto de limpeza na “primeira publi do Threads”, segundo o Meio&Mensagem;
  • A corrida pelo uso comercial ficou tão evidente que o dono de uma famosa página de publis e memes reclamou no LinkedIn de gente que já estava vendendo cursos sobre como “desvendar” o Threads.

Enquanto isso, a audiência despenca na rede ao lado conforme o dono anuncia limites até para quem paga mensalidade.

  • Um dos efeitos colaterais foi dificultar que o Google faça a indexação de URLs do Twitter, o que gerou a perda de milhões de cliques em potencial, já que a plataforma piorou no ranqueamento das buscas;
  • Não bastasse o Twitter ser um espaço publicitário cada vez menos relevante, o dono ameaçou expor clientes que cortassem a verba, brandindo seus 147 milhões de seguidores como um porrete;
  • Uma apresentação interna revelada pelo New York Times mostra que a receita publicitária do Twitter em abril deste ano caiu 59% em relação ao mesmo mês de 2022;
  • As projeções não são cumpridas desde que Musk assumiu a empresa e não há indicativo de que o cenário mude, segundo o documento;
  • Uma tentativa de estancar a sangria na reputação foi a escolha de Linda Yaccarino como CEO, cargo que ela assumiu no mês passado;
  • A executiva possui extensa carreira no relacionamento com clientes do mercado publicitário e deixou a NBCUniversal para trabalhar para Musk.


Ameaça. Elon Musk promete expor anunciantes que deixarem o Twitter (Reprodução)

A Meta quer oferecer a experiência do Twitter, mas com a segurança de marca que a empresa de Musk jamais irá recuperar. Entre frequentadores de bares do Itaim Bibi, bairro paulistano onde fica o escritório da firma, o termo citado seria “brand safety”.

Ao decidir se irão anunciar em redes como Instagram e Twitter, chamadas de “walled gardens” (“jardins cercados”), marcas levam em conta riscos específicos desses espaços, como possíveis reações negativas daquela determinada comunidade e se há ou não moderação de conteúdo. Afinal, nenhuma empresa quer ver sua inserção em um print lado a lado com conteúdo neonazista, por exemplo.

Nesse sentido, a queda de receita do Twitter se explica também pela decisão de acabar com a moderação. “Assim que eu saí e parei de falar sobre os riscos [das eleições brasileiras] para ele [Musk], a empresa parou de fazer seu trabalho”, disse Yoel Roth, ex-executivo da área de integridade e segurança que foi alvo de ameaças de morte após ser atacado pelo ex-chefe, que publicou um tuíte dando a entender que ele havia incentivado conteúdo pedófilo.

O cenário é bem diferente no reino da Meta.

  • O Threads tem potencial para alcançar até US$ 8 bilhões em receita anual em dois anos, segundo estimativas de analistas consultados pela Bloomberg;
  • Esse número é muito superior a todos os da história do Twitter;
  • Na terça (11), reportagem do Axios revelou que existem planos para liberar no Threads ferramentas de conteúdo patrocinado que já existem no Instagram e incentivar que marcas compartilhem publis na nova rede.

Apesar de o Threads já ter problemas — como o Aos Fatos mostrou no dia seguinte ao lançamento —, a Meta possui diretrizes estabelecidas sobre moderação de conteúdo, além de processos que já foram testados em mercados de todo o mundo. Os riscos estão muito bem mapeados.

Após o lançamento, Mark Zuckerberg publicou no Threads que não irá pensar em monetização antes de chegar a 1 bilhão de usuários. Não há pressa. É pequena a diferença entre incentivar conteúdo patrocinado, que não é impulsionado, e liberar a possibilidade de pagar por anúncios, que têm impulsionamento de alcance.

Até lá, nada impede a Meta de reforçar a relação com marcas que já anunciam no Facebook e no Instagram.

Print de tuíte da influenciadora Thelminha sobre o primeiro publieditorial na rede Threads
‘Primeiro squad.’ Vencedora do BBB, Thelminha prometeu entregar mais do que publis no Threads (Reprodução)

Zuck, que consolidou o modelo de “walled garden” nos anos 2010, agora aponta para uma bifurcação. O Threads adota o protocolo aberto ActivityPub, que também é usado por plataformas como Tumblr, Mastodon, Flipboard e Medium — com a diferença fundamental que nenhuma delas chega perto dos 1,2 bilhão de usuários do Instagram, que têm incentivos para acessar a nova rede.

A promessa é que, ao contrário de Instagram e Facebook, o Threads tenha no futuro um muro poroso.

  • O ActivityPub torna possível aos usuários publicar e acessar conteúdo de diferentes fontes em um só aplicativo;
  • Seria viável, por exemplo, postar no Tumblr usando o Threads, ou ler posts do Threads no Flipboard;
  • O protocolo aberto permite a portabilidade de dados como seguidores, o que dá maior controle a influenciadores e marcas, que não precisam reconstruir suas audiências sempre que novas redes forem criadas;
  • A descentralização pode significar desafios para a moderação de conteúdo, uma vez que as redes interconectadas exibiriam conteúdos umas das outras.

Na prática, o novo produto da Meta oferece uma ponte entre o Instagram e todas as redes que adotam o ActivityPub. Para quem já possui muitos seguidores por lá, será possível migrar para o Threads e, depois, exportar os dados pessoais para outros lugares.

Ao derrubar uma antiga convicção aplicada a seus produtos, a empresa dá o braço a torcer à tendência e busca aproveitar sua massa de usuários — cada vez mais idosa em comparação à presente no TikTok —, a fim de manter centralidade em uma internet que será diferente da que conhecemos hoje.

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