🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2024. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Fórum Econômico Mundial vê desinformação como maior risco global nos próximos anos

Por Tai Nalon

12 de janeiro de 2024, 11h55

Aviso: este texto é uma análise e foi publicado originalmente na newsletter O Digital Disfuncional.


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#22 | 💸 Pobres e desinformados

Em relatório publicado nesta quarta-feira (10), o Fórum Econômico Mundial elegeu a desinformação o risco mais severo para a ordem global nos próximos dois anos. A perspectiva é que, ao longo dos próximos dez anos, estaremos sob o risco de sermos todos cozidos por alterações climáticas enquanto assombrados por campanhas mentirosas geradas por inteligência artificial. A conclusão óbvia será menos dinheiro no bolso.

O relatório traz o diagnóstico de cerca de 1.500 líderes globais nos negócios, nos governos, na academia, na comunidade internacional e na sociedade civil. Muitos deles estarão em Davos (Suíça) na semana que vem, num dos principais encontros globais de tomadores de decisão. O resultado do levantamento também é indicativo de que os donos do dinheiro terão mais dificuldade de ignorar a gravidade do problema, ainda que a principal justificativa esteja depositada em algum fundo de investimentos.

Segundo o relatório, campanhas de manipulação sobre a legitimidade de eleições podem resultar em conflitos severos e, “a depender da importância sistêmica de uma economia”, risco para o comércio global e os mercados financeiros. “Campanhas patrocinadas por estados podem deteriorar relações internacionais por meio do fortalecimento de regimes de sanções, ofensivas cibernéticas e detenção de indivíduos (incluindo perseguições principalmente com base em nacionalidade, etnia e religião)”, frisa o documento, em tradução minha.

O relatório entende como desinformação “informações persistentemente falsas (deliberadas ou não), amplamente disseminadas por meio de redes de mídia, alterando significativamente a opinião pública em direção à desconfiança em fatos e autoridade”. Inclui, mas não se limita a, conteúdo falso, impostor, manipulado e fabricado. Elenca, então, três desdobramentos que justificam o alto risco:

  • Desinformação (intencional ou não) pode interferir em processos eleitorais em diversas economias nos próximos dois anos.
  • O aumento da desconfiança em relação à informação, bem como em relação à mídia e aos governos como fontes, aprofundará visões polarizadas – um ciclo vicioso que poderia desencadear distúrbios civis e possivelmente confrontos.
  • Há risco de repressão e erosão de direitos à medida que autoridades oficiais buscam reprimir a proliferação de informações falsas – bem como riscos decorrentes da inação.

A análise parece preguiçosa para quem esteve vivo e na frente de uma tela nos últimos dias. Um ano depois dos atos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília e três anos depois da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, o alarme da comunidade internacional endinheirada começa a tocar. É a primeira vez em pelo menos cinco anos que a desinformação figura entre as cinco maiores preocupações nesse relatório. Não à toa, subiu quinze posições no ranking de percepção de risco de curto prazo entre o relatório do ano passado e deste ano. Sociedade civil, academia e setor privado apontaram o fenômeno como o mais preocupante. Também o fizeram todas as faixas etárias consultadas.

Embora a desinformação seja o maior risco diagnosticado, é impossível analisar esse quadro sem compreender todas as demais variáveis associadas a ela. Os principais riscos percebidos pelos entrevistados para os próximos dez anos são relativos às mudanças climáticas, essas também alvo constante de campanhas mentirosas. São listados como maiores riscos, nesta ordem, eventos climáticos extremos, mudanças nos sistemas terrestres, colapso de ecossistemas e perda de biodiversidade, racionamento de recursos naturais.

Também são associados à desinformação e mencionados como riscos críticos nos próximos dois a dez anos a polarização social e as consequências adversas da inteligência artificial. “Fatores divisivos como polarização política e dificuldades econômicas estão diminuindo a confiança e um senso de valores compartilhados. A erosão da coesão social está deixando amplo espaço para que novos riscos, em evolução, se propaguem”, diz o relatório.

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O enfraquecimento das instituições democráticas também traz à discussão o desconforto dos entrevistados em relação ao poder desproporcional de atores privados. Não é que as empresas de tecnologia estão mais poderosas — sob pressão de campanhas de influência, são os estados que não dão conta de mantê-las sob escrutínio adequado. Conforme o relatório, “o poder tecnológico nas mãos de não eleitos é visto por muitos respondentes como uma preocupação maior do que o poder concentrado no governo”.

“A influência das grandes empresas de tecnologia já é transnacional, competindo com estados-nação, e a inteligência artificial generativa continuará a catalisar o poder dessas empresas e de seus associados”, diz o texto. O diagnóstico é que o poder dessas corporações está circunstancialmente centrado na esfera regulatória, embora cresça na medida que se amplia o controle sobre tecnologias de propósito geral e de uso militar e civil.

É difícil dizer o que poderá sair de concreto das conversas em Davos sobre esse tema. O Digital Disfuncional da última sexta-feira (5) trouxe a avaliação de que as discussões relacionadas à regulação das plataformas e da inteligência artificial serão abordadas no G20 pelo Brasil, que preside o grupo neste ano. Quem levará as impressões brasileiras sobre o tema para o Fórum Econômico Mundial neste ano será o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luís Roberto Barroso, segundo quem “o mundo da revolução tecnológica e o mundo das plataformas digitais simplesmente não tem mais como viver sem algum tipo de regulação”.

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