Governo Lula não distribuiu a escolas públicas livro que incentiva incesto

Por Marco Faustino

5 de junho de 2024, 16h21

Não é verdade que o governo Lula enviou um livro sobre incesto a escolas públicas. As peças de desinformação compartilham uma reportagem exibida em 2017, ainda durante o governo Temer, sobre a reação de instituições de ensino do Espírito Santo à obra infantil “Enquanto o sono não vem”, distribuída pelo MEC e posteriormente recolhida. O livro conta a história de uma princesa que é assediada pelo pai e punida ao se negar a casar com ele.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 2.000 curtidas, milhares de visualizações no TikTok e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quarta-feira (5).

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Selo falso

MEC envia livros comprados pelo governo Lula que incentiva filhas a se casarem com o pai

Posts compartilham como se fosse recente reportagem exibida pela ESTV em junho de 2017 sobre livro distribuído pelo governo Temer

Uma reportagem de 2017 da TV Gazeta, afiliada da Globo no Espírito Santo, tem sido compartilhada nas redes como se fosse recente para alegar que o governo Lula teria enviado às escolas um livro que incentiva o incesto. O telejornal noticiou na época que prefeituras do Espírito Santo recolheram a obra “Enquanto o sono não vem” (Rocco, 2003), de José Mauro Brant, e a devolveram ao MEC (Ministério da Educação) por considerarem a temática inapropriada. O presidente era Michel Temer (MDB).

Um dos contos populares presentes no livro, distribuído a alunos do primeiro, segundo e terceiro anos do ensino fundamental da rede pública, conta a história de uma princesa que é assediada pelo pai. Ao se negar a casar com ele, ela é aprisionada e tem um fim trágico. Em resposta às críticas, a editora Rocco alegou que o livro passou por ampla avaliação antes de ser enviado às escolas.

Dias após a reportagem, o então ministro da Educação, Mendonça Filho, decidiu recolher os 93 mil exemplares que haviam sido distribuídos. O MEC informou que a obra tinha sido incluída no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) em 2014, durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), e que estava revendo o processo de seleção dos livros.

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“As crianças no ciclo de alfabetização, por serem leitores em formação e com vivências limitadas, ainda não adquiriram autonomia, maturidade e senso crítico para problematizar determinados temas com alta densidade, como é o caso da história em questão”, diz um trecho do parecer da Secretaria de Educação Básica do MEC. O órgão não considerou a obra adequada para crianças de sete a oito anos por abordar o tema do incesto.

A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que foi responsável por avaliar a adequação do livro ao ambiente escolar, afirmou na época que "o fato de uma obra tematizar incesto, como é o caso de ‘A triste história de Eredegalda’, não quer dizer que faça apologia do incesto. Ou seja, não é o tema que aborda, mas a maneira como o faz que deve ser considerado pelo leitor."

Aos Fatos consultou o Guia Digital do PNLD de obras literárias de 2022, documento mais recente, e verificou que a obra “Enquanto o sono não vem” não consta entre os livros passíveis de distribuição.

Esta peça de desinformação também foi desmentida pela Agência Lupa.

Referências:

1. g1
2. MEC
3. Ufal

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