Posts distorcem fala de Lula para sugerir que governo irá isentar de taxas apenas pescoço e pé de frango

Por Luiz Fernando Menezes

27 de junho de 2024, 15h56

Uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido retirada de contexto nas redes sociais para sugerir que o governo prometeu isentar de tributos apenas cortes menos nobres de frango, como o pé e o pescoço. As peças de desinformação que trazem a alegação recortaram a fala completa do petista que, na verdade, defendia que todos os cortes de frango deveriam ser isentos.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulam centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quinta-feira (27).


Selo não é bem assim

Lula deixou escapar essa aqui: pescoço e pé de frango será isento de imposto.

Imagem de Lula circula com legenda que diz que ele teria 'deixado escapar' que vai isentar pé e pescoço de frango

Publicações têm compartilhado uma distorção de uma fala do presidente Lula durante sua entrevista ao UOL na última quarta-feira (26) para sugerir que ele teria prometido isentar de impostos apenas o pescoço e o pé de frango. As peças de desinformação tiram de contexto a fala do petista que, no trecho citado, defendia que, na reforma tributária, todos os cortes de frango deveriam ser isentos.

A fala completa foi:

“Agora nós vamos discutir, por exemplo, a política tributária, nós vamos discutir quais dos itens que a gente quer que não paguem imposto de renda e qual que é o imposto. Então, eu acho que você tem que separar, mesmo na questão da carne, os empresários querem que você isente toda a carne. Eu acho que a gente tem que mediar, você tem carne que é consumida só por gente de padrão alto e você tem a carne que o povo consome. Então, você pode fazer a separação. A carne de frango, você não vai taxar frango, a carne de frango é o que o povo come, sabe? Todo dia, pé de frango, pescoço de frango, peito de frango. Então, a gente tem um cuidado especial.”

A fala de Lula faz referência à discussão do projeto de regulamentação da reforma tributária que está em tramitação na Câmara dos Deputados. A reforma, que foi aprovada em 2023, determinou a criação de duas cestas básicas. Na Cesta Básica Nacional de Alimentos, os itens que a compõem serão isentos de impostos. Já na Cesta Básica estendida, os produtos terão uma alíquota 40% menor do que o imposto criado pela reforma, cuja alíquota ainda não foi definida.

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No texto enviado em abril deste ano, o governo não incluiu nenhuma proteína animal na Cesta Básica Nacional de Alimentos, o que significa que nenhuma delas seria isenta de impostos. Na entrevista ao UOL, no entanto, Lula defendeu que a carne de frango não deveria ser taxada porque ela seria mais consumida pela população mais pobre.

Quando o Ministério da Fazenda entregou a proposta de regulamentação ao Congresso, o diretor da Secretaria Extraordinária de Reforma Tributária, Rodrigo Orair, explicou que a decisão de deixar as carnes de fora da Cesta Básica Nacional tem o objetivo de não aumentar a alíquota geral. Na época, Orair também explicou que não é possível separar os tipos de carne para reduzir os impostos apenas dos cortes mais consumidos pela população, porque a operacionalização seria muito difícil.

Atualmente, os produtos são divididos de acordo com o NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul). As aves, por exemplo, possuem códigos diferentes para aves inteiras, pedaços com e sem miudezas, refrigerados e congelados. Já as carnes bovinas são divididas em carcaças, peças não desossadas e desossadas e miudezas comestíveis.

“Nada impede que o legislador adote esse ou outros critérios de discriminação para a imposição de regimes tributários diversos”, explicou Bruno Takii, advogado tributarista e conselheiro do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), ao Aos Fatos.

Referências:

1. UOL
2. Câmara dos Deputados
3. Folha de S.Paulo
4. Siscomex

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