🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

'Exame' não caiu em contradição ao chamar de mentira fala de Bolsonaro sobre vacinas e Aids

Por Luiz Fernando Menezes

25 de outubro de 2021, 18h54

O site da revista Exame não se contradisse ao chamar de mentira a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que vacinados contra Covid-19 desenvolvem Aids porque publicou uma reportagem no ano passado sobre um tipo de imunizante que poderia aumentar o risco de contrair o HIV (veja aqui).

O texto do ano passado abordava uma carta de cientistas com alertas sobre o Ad5, um adenovírus que não é usado nas vacinas aplicadas hoje no Brasil. Já a declaração do presidente remetia à alegação falsa e genérica de que relatórios do governo britânico concluíram que os fármacos causam perda de imunidade, nos moldes da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

Postagens com a alegação enganosa reuniam ao menos 1.500 compartilhamentos no Facebook nesta segunda-feira (25), e também circulam no WhatsApp (Fale com Fátima).


É falsa a contradição apontada em postagens nas redes sociais entre duas reportagens publicadas pelo site da revista Exame. As publicações equiparam os títulos de uma matéria recente que classifica como mentira a declaração do presidente Bolsonaro sobre vacinados contra Covid-19 desenvolverem Aids e de uma outra, de outubro de 2020, que aborda um tipo de adenovírus que poderia aumentar o risco de contrair HIV se usado em imunizantes.

O texto do ano passado noticia uma carta de pesquisadores publicada em outubro de 2020 pela revista científica Lancet sobre potenciais riscos de se utilizar o adenovírus Ad5 em vacinas contra a Covid-19. Isso porque, de acordo com os autores, testes com imunizantes contra o HIV que usavam esse composto foram interrompidos em 2007 após pesquisas identificarem maior suscetibilidade do vacinado contrair o vírus causador da Aids.

Nenhum dos imunizantes contra a Covid-19 aplicados no Brasil contém o Ad5. Ele é utilizado hoje apenas na segunda dose da vacina Sputnik, que não tem permissão para uso no país.

Após a distorção da reportagem nas redes sociais, a Exame alterou o título da publicação e inseriu um ponto de interrogação para sinalizar que o enunciado trata de uma teoria formulada pelo grupo de pesquisadores que assina a carta.

Já a segunda reportagem citada nas publicações checadas reúne críticas de cientistas e políticos à fala de Bolsonaro na live da última quinta-feira (21). Na ocasião, o presidente leu uma afirmação falsa, já checada por Aos Fatos, de que relatórios do governo do Reino Unido concluíram que vacinados desenvolveram Aids.

Os informes semanais do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido (confira aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) avaliam a eficácia das vacinas aplicadas no país e não fazem qualquer menção à Aids como consequência da imunização contra o Sars-CoV-2.

A alegação falsa foi formulada com base em uma coluna que não existe nos documentos originais, chamada de “reforço ou degradação do sistema imunológico”, nas tabelas sobre os casos de Covid-19 entre vacinados e não vacinados com as duas doses da Pfizer (veja abaixo o comparativo).


Tabela fraudada. Comparativo mostra a inserção de uma coluna na tabela difundida pelas publicações (imagem inferior), que não consta nos relatórios originais do governo do Reino Unido (imagem superior).

Os percentuais da coluna fraudulenta foram calculados a partir da diferença entre as taxas de incidência de casos de Covid-19 a cada 100 mil vacinados com duas doses e não vacinados, fórmula que não serve para medir a imunidade de um indivíduo.

Segundo a doutora em imunologia pela USP (Universidade de São Paulo) Letícia Sarturi, a resposta imunológica ao longo do tempo é avaliada pela geração de células de memória (como linfócitos T e B) e o nível de anticorpos produzido por elas, informações que não constam no relatório do departamento de saúde britânico.

Segundo a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a Covid-19 e a Aids. A contaminação pelo HIV se dá apenas por meio de relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de objetos perfurantes contaminados e de mãe soropositiva para o filho durante gestação, parto ou amamentação.

Amplificador. A alegação falsa sobre vacinados desenvolverem Aids foi disseminada pelo presidente Jair Bolsonaro durante uma transmissão ao vivo no Facebook na quinta-feira (21) e fez com que a plataforma tirasse o conteúdo do ar.

Nesta segunda-feira (25), Bolsonaro voltou ao assunto ao citar a alegação enganosa sobre o site da Exame. "A revista Exame fez uma matéria sobre vacina e Aids. Eu repeti essa matéria na minha live, dois dias depois a revista Exame falou que eu falei fake news. Foi a própria Exame que falou da relação de HIV com vacina. Eu apenas falei sobre a matéria da revista Exame", disse em entrevista à rádio Caçula FM, de Três Lagoas (MS).

Assim, além de propagar a falsa alegação sobre o site, o presidente mentiu ao dizer que se referia na live à carta de pesquisadores a respeito do adenovírus ad5.

Referências:

1. Revista Exame (Fontes 1, 2 e 3)
2. The Lancet
3. SuperInteressante
4. Aos Fatos (Fontes 1 e 2)
5. Departamento de Saúde Pública do Reino Unido (Fontes 1, 2, 3, 4 e 5)
6. Sociedade Brasileira de Infectologia
7. B9


Aos Fatos integra o Third-Party Fact-Checking Partners, o programa
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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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