É falso que bombeiros e voluntários encontraram 2.000 corpos em bairro de Canoas

Por Marco Faustino

11 de maio de 2024, 11h36

Não é verdade que foram encontrados 2.000 corpos de vítimas das enchentes no bairro de Mathias Velho, em Canoas (RS), na última quinta-feira (9), como alegado em um áudio compartilhado por publicações nas redes. O mesmo áudio afirma que as autoridades da cidade estão armazenando os cadáveres em câmaras frias para não causar pânico à população. A Prefeitura de Canoas e o IGP (Instituto Geral de Perícias) do Rio Grande do Sul desmentiram o boato.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 350 mil visualizações no TikTok até a tarde de sexta-feira (10) e circulam também no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).

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Selo falso

Ali para Mathias Velho, aproximadamente 2.000 pessoas mortas. Essas pessoas estão todas congeladas, porque a mídia não pode falar, porque pode dar pânico nas pessoas

Em áudio que circula nas redes sociais, mulher engana ao dizer que foram encontrados dois mil corpos em Canoas; boato foi desmentido pelo IGP e pela Prefeitura de Canoas

Em áudio que circula nas redes, uma mulher não identificada pelo Aos Fatos afirma que uma colega escutou uma conversa entre bombeiros, e que os oficiais encontraram 2.000 mortos no bairro de Mathias Velho, no município gaúcho de Canoas, na quinta-feira (9). No áudio, a mulher também diz que os corpos estavam sendo mantidos congelados em câmaras frias e necrotérios, e que a mídia não estava divulgando para causar na população. Tudo isso é falso.

Aos Fatos procurou o Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, que direcionou o caso à Defesa Civil e ao IGP. O instituto, por sua vez, afirmou que as informações não procedem. Já a Prefeitura de Canoas classificou o episódio como “fake news”. Por meio de busca na imprensa e em blogs locais, tampouco foi localizada qualquer notícia sobre a existência de milhares de corpos sendo armazenados em câmaras frias e necrotérios.

Em listas compartilhadas por socorristas e voluntários sobre ocorrências e resgates feitos em Canoas, Aos Fatos não encontrou quaisquer relatos da localização de milhares de corpos mortos. A presidente do sindicato dos motoristas de transporte individual por aplicativo do Rio Grande do Sul, Carina Andrade, que mora em Mathias Velho, e que faz parte de um grupo de voluntários local ao qual Aos Fatos obteve acesso, afirmou que o áudio é falso.

“A gente sabe que vai encontrar alguém que perdeu a vida tentando se salvar, mas essas coisas, assim, muita gente, até porque nas imagens aéreas tu consegue ver que não tem aglomeração de corpos. Infelizmente essas pessoas acabam propagando, alarmando muito mais do que deveria”, diz Andrade.

O número de mortes em decorrência das enchentes vem sendo atualizado diariamente pela Defesa Civil. Até quinta-feira (9), data em que os corpos teriam sido supostamente encontrados, cinco mortes em Canoas tinham sido confirmadas pelo órgão. No último boletim, emitido às 19h de sexta-feira (10), o número de mortos aumentou para oito, e dez pessoas estão oficialmente desaparecidas.

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Ainda segundo a Defesa Civil, as enchentes afetaram 444 dos 497 municípios gaúchos, o que resultou até às 9h deste sábado (11) em 136 mortes confirmadas, 141 pessoas desaparecidas e outras 339 mil desalojadas. Não há óbitos em investigação.

No último fim de semana, um outro áudio enganoso circulou nas redes sociais afirmando que tinham sido encontrados 300 corpos boiando em Mathias Velho, sendo que a estimativa era de 2.000 mortos. Em entrevista à Rádio Gaúcha, na segunda-feira (5), o prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), disse que os boatos sobre centenas de corpos boiando são falsos e acrescentou que as equipes de salvamento não viram essa situação.

“Conversamos com o pessoal que está nos barcos, e essa informação não foi vista. Nenhuma das pessoas que estão fazendo o salvamento, que nós contatamos, confirma essas informações”, afirmou Jairo Jorge.

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Referências:

1. Instagram (Fontes 1 e 2)
2. Defesa Civil do Rio Grande do Sul
3. GZH

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