Meta permite anúncios com golpes de falsas doações para o Rio Grande do Sul

Por Ethel Rudnitzki

8 de maio de 2024, 14h40

Anúncios falsos, com pedidos de doações para os afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul que escondem golpes financeiros, são impulsionados sem qualquer moderação nas redes da Meta — que lucra ao permitir a divulgação desses crimes no Instagram, no Facebook, no Messenger e na plataforma de monetização Audience Network.

Aos Fatos encontrou três publicações pagas que usam como foto de perfil o logotipo do g1, ainda que não tenham vínculo com o site de notícias da Globo.

  • Uma delas usa trecho do programa Balanço Geral, da Record, transmitido no dia 1º de maio, em que o apresentador fala sobre os afetados pela crise no estado até então;
  • Outras duas usam um vídeo viral que mostra imagens das enchentes e que pede a mobilização de gaúchos para doarem alimentos, roupas ou produtos de higiene “ao órgão público mais próximo”.

Print de anúncio nas plataformas da Meta que aplica golpe em doações para o RS
‘URGENTE!!!.’ Anúncio nas plataformas da Meta usa reportagem da Record para divulgar golpe (Reprodução)

Os anúncios direcionam para um site que usa o brasão do governo gaúcho, mas não é oficial. A página apresenta opções de doação de R$ 25 até R$ 1.000, em links que levam o usuário a uma plataforma de pagamentos que simula o Mercado Pago, mas com outro endereço.

O site alega que as doações serão direcionadas “às organizações não governamentais (ONGs) que estão na linha de frente, ajudando os desabrigados a reconstruírem suas vidas” e estabelece uma suposta meta de arrecadação de R$ 720 mil.

Porém, não há qualquer transparência sobre o destino dos recursos. Ao pagar via Pix, o valor vai para uma conta não identificada em uma plataforma de intermediação de pagamentos. Em e-mail enviado ao Aos Fatos nesta sexta-feira (10), o representante da plataforma disse ter removido o usuário após a publicação da reportagem. A reportagem verificou que o golpista passou a utilizar outra plataforma de pagamento, e o golpe segue em curso.

Além disso, o site mostra comentários de supostos doadores com data anterior à do início da tragédia no Rio Grande do Sul. O último depoimento é datado de 18 de abril — dez dias antes de as enchentes começarem.

Também não é possível enviar novos comentários, que estariam restritos apenas a usuários logados, segundo o site. Não há, no entanto, nenhuma opção para criar cadastro ou fazer login. Tampouco há formas para entrar em contato com os responsáveis.

Print de comentários em site falso que pede doações para RS
Comentários falsos. Depoimentos de supostos doadores do site são anteriores ao início das enchentes no RS. (Reprodução)

Anúncios com o golpe estão sendo exibidos no Facebook, no Instagram, no Messenger e na Audience Network — plataforma de monetização de aplicativos da Meta — desde esta quarta-feira (8). Por não estarem categorizados como anúncios de temas sociais ou políticos, não é possível saber o alcance e o valor investido pelos criminosos.

De acordo com os Padrões de Publicidade da Meta, anunciantes não podem “veicular anúncios que promovam produtos, serviços, esquemas ou ofertas que usem práticas identificadas como enganosas ou fraudulentas, incluindo golpes para obter dinheiro de pessoas ou acessar informações pessoais”.

Após a publicação desta reportagem, a Meta enviou um posicionamento:

“Lamentamos a crise que está afetando o povo do Rio Grande do Sul e nos solidarizamos com todos os afetados pela tragédia das enchentes. Não permitimos atividades fraudulentas em nossos serviços e estamos removendo conteúdos violadores assim que identificados por meio do uso de tecnologia, denúncias de usuários e revisão humana. Investimos, ainda, em campanhas educativas para compartilhar dicas sobre como as pessoas podem se proteger e evitar tentativas de golpes online. Também reforçamos nossa contínua colaboração com as autoridades do Rio Grande do Sul”.

Os anúncios fraudulentos indicados pela reportagem permaneciam no ar.

Golpes financeiros que se aproveitam da catástrofe no Rio Grande do Sul têm circulado nas redes desde o início do mês. Algumas dicas para evitar as fraudes são:

  • Verificar se o site ou página que está pedindo doações pertence à instituição ou indivíduo com o qual deseja colaborar;
  • Observar e checar os dados de destinatário de doações via Pix;
  • Doar para pessoas ou organizações que mantenham transparência sobre o destino dos recursos recebidos, seja com prestação de contas ou postagens em redes sociais sobre os trabalhos realizados.

Aos Fatos publicou um guia completo de como ajudar sem cair em golpes.

Leia mais
Explicamos Como ajudar o Rio Grande do Sul sem correr o risco de cair em golpes

Reincidente. Criada em agosto de 2023, a página com os anúncios golpistas de doações já publicou também a venda de eletrônicos, como computadores e celulares, e de roupas íntimas. Anúncios anteriores, no entanto, não estão mais disponíveis para consulta.

Além disso, o site também hospeda página que pede doações para uma suposta vaquinha destinada a uma criança com atrofia muscular espinhal (AME) tipo 2, com meta de arrecadação de R$ 6 milhões. O esquema é o mesmo, com comentários falsos de supostos doadores e sem indicar endereço para contato ou prestação de contas.


Este texto foi atualizado às 16h47 do dia 8 de maio de 2024 para incluir o posicionamento da Meta.

Este texto foi atualizado às 17h20 do dia 10 de maio de 2024.

Referências:

1. Meta
2. Aos Fatos

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