🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Como as redes bolsonaristas usam desinformação para pressionar por queda de Mandetta

Por Bárbara Libório, Marina Gama Cubas e Thamyres Dias

9 de abril de 2020, 20h00

Em meio à tensão entre o Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto e à expectativa da demissão de Luiz Henrique Mandetta, perfis alinhados ao bolsonarismo investiram na desinformação sobre o ministro nas redes sociais. Levantamento do Radar Aos Fatos com mais de 530 mil tweets postados entre 30 de março e 7 de abril mostra que blogueiros e um empresário apoiadores do presidente foram os principais responsáveis por espalhar a notícia falsa de que o titular da Saúde teria renovado em dezembro de 2019, sem o aval do do Planalto, contratos com agências de publicidade firmados no governo Dilma Rousseff (PT).

O tweet mais compartilhado (2.841 retweets) com esta desinformação foi o do blogueiro Oswaldo Eustáquio, quem veiculou primeiro a informação falsa em seu site, o Agora Paraná. Em seguida, aparece o tweet do empresário Winston Ling (2.282 retweets). Allan dos Santos, do Terça Livre, também figura entre os principais replicadores (998 retweets).

No Facebook, entre links e imagens, os posts que veicularam a desinformação e foram marcados por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social reuniam mais de 53,3 mil compartilhamentos até a manhã desta quinta-feira (9). Pelo menos nove páginas alinhadas a Bolsonaro amplificaram o conteúdo enganoso.

No Google, as buscas pelos termos "mandetta contrato de publicidade" cresceram principalmente entre os dias 6 e 7, com a expectativa da demissão do ministro pelo presidente, que não se concretizou.

O debate no Twitter. A tensão entre o Ministério da Saúde e o Planalto se instalou há semanas, desde que Bolsonaro começou a contestar as medidas de isolamento social defendidas por Mandetta, pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e por especialistas para conter a disseminação da Covid-19. Mas, no Twitter, o debate sobre a atuação do ministro ganhou tração apenas na última sexta-feira (3), após a divulgação de pesquisa do Instituto Datafolha que mostrou que a aprovação do Ministério da Saúde durante a pandemia do novo coronavírus era mais do que o dobro da de Bolsonaro.

Em 5 de abril, a veiculação da informação falsa sobre os contratos de publicidade também estimulou posts sobre o tema, que chegaria ao seu pico na segunda-feira (7) com os rumores sobre a saída de Mandetta do comando da pasta.

Entre as hashtags, a #ForaMandetta foi a mais utilizada por usuários que falaram sobre o tema na rede social. Ela aparece quase três vezes mais que a #FicaMandetta no mesmo período.

Observação metodológica | Para essa análise foram capturados os tweets com os seguintes termos: Mandetta ou Mandeta ou "ministro da saúde" ou "ministro da saude" ou "ministério da saúde" ou "ministerio da saude" ou @lhmandetta ou #mandettaestamoscontigo ou #mandetta ou #foramandetta ou #foramandeta ou #mandettaamascaracaiu ou #exoneramandettapresidente ou #ficamandetta ou #ficamandeta ou #mandettagenocida ou #bolsonarodemitamandetta ou #mandettasabotador ou #ficamandettaforabolsonaro ou #mandettacavalodetroiadaesquerda ou #mandettaficapresidente ou #mandetaficapresidente ou #mandettatemrazão ou #mandettatemrazao ou #mandetatemrazão ou #mandetatemrazao ou #mandettatraidor ou #mandetatraidor ou #mandettadetroia ou #saimandettaentraosmarterra ou #tchaumandetta. A captura foi feita com código disponibilizado pelo Núcleo Jornalismo.

Análise de interações sobre o ministro. A imagem acima representa as relações entre perfis engajados no debate sobre o ministro Henrique Mandetta por meio de retweets. Para a sua elaboração, foram utilizados cerca de 430 mil retweets, coletados entre 30 de março e 7 de abril. Os grupos, separados por cores, são formados de acordo com as relações entre os perfis -- e quanto maior o nome do perfil na visualização, maior sua relevância para o debate. Foram utilizadas para a captura diferentes possibilidades de grafia para o nome do ministro da Saúde e hashtags associadas diretamente a ele ao longo do período analisado.

Grupo azul (44%)

O maior grupo no debate analisado reúne, entre outros atores, políticos de centro à esquerda no espectro político e veículos de comunicação. Destacam-se nele o compartilhamento de notícias sobre a pandemia no Brasil e em outros países e as referências críticas ao governo, especialmente no contexto da possibilidade de demissão do ministro Mandetta. Apesar de mobilizar menções elogiosas, o titular da pasta também é criticado no grupo, principalmente quando são abordadas medidas de flexibilização do isolamento social e o suposto papel que militares tiveram na negociação de sua permanência no cargo.

Entre as hashtags mais utilizadas pelo grupo estão: #ForaMandetta (principalmente em publicações que criticam os que pediam a saída do ministro em meio à crise ou até em menções elogiosas a ele), #coronavírus, #FicaMandetta e #ForaBolsonaro.

Grupo verde (22%)

Segundo grupo com maior volume de interações, porém mais isolado dos demais, o núcleo concentra publicações de apoio a Bolsonaro, incluindo perfis de políticos da base governista. Nele, Mandetta é bastante criticado, especialmente por uma suposta atuação política à frente do Ministério da Saúde e pela cautela no uso de protocolos com a hidroxicloroquina -- motivos que, para alguns dos perfis analisados, justificariam sua demissão. O deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS) é mencionado como potencial sucessor, mas as opiniões sobre seu nome se dividem entre manifestações de apoio e críticas à sua postura diante da pandemia.

A informação falsa de que Mandetta teria renovado contratos de publicidade feitos pelo governo Dilma também circulou de modo relevante neste grupo. Além de Mandetta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se destaca como alvo de críticas, bem como o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. São recorrentes, ainda, publicações de tom negativo sobre a imprensa, vista como pouco comprometida com a "verdade" e como uma causadora de "intrigas".

Algumas das hashtags mais utilizadas pelos perfis deste grupo são: #ForaMandetta, #BolsonaroTemRazao, #viruschines e #OsmarTerraTemRazao.

Grupos vermelho (10,5%), roxo (8,3%) e laranja (7,1%)

Capitaneado, em especial, por publicações dos youtubers Felipe Castanhari e Felipe Neto, o grupo vermelho dialoga bastante com o azul e mantém destaque temático semelhante. Nele, predominam menções sobre os rumores de que Osmar Terra seria o novo ministro da Saúde, sempre em tom crítico ao deputado federal. O eixo temático traz ainda a discussão ciência versus opinião, em que Mandetta é visto como alguém que está ao lado da ciência e, por isso, seria demitido por Bolsonaro. São frequentes, ainda, críticas à postura do Brasil na pandemia ante a de outros países Tais temas aparecem também nos grupos roxo e laranja. Com menor participação de atores políticos, esses núcleos também reúnem postagens irônicas e memes sobre o debate em torno da troca de comando na pasta.

Entre as hashtags que mais figuram nas publicações deste grupo estão: #ForaMandetta, #coronavírus, #FicaMandetta e #ForaBolsonaro.

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Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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