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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2017. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Temer erra dados econômicos ao comentar rejeição de denúncia

Por Sérgio Spagnuolo, Ana Rita Cunha e Tai Nalon

2 de agosto de 2017, 23h30

Logo depois de a Câmara barrar a denúncia contra Michel Temer nesta quarta-feira (2), o presidente defendeu seu mandato e sobretudo as ações de seu governo na economia em pronunciamento feito no Palácio do Planalto. Questões relativas às contas do governo, ao desemprego e à exportação foram apresentadas de modo equivocado.

Veja, abaixo, o que Aos Fatos checou.


CONTRADITÓRIO

Nós faremos muito mais ao colocar, como estamos fazendo, as nossas contas em ordem de forma definitiva e equilibrada.

A declaração de Temer vai contra a fala do ministro Henrique Meirelles, que admitiu na última segunda-feira (31) estar analisando se irá, de fato, rever a meta fiscal do governo. A meta fiscal atual, por sua vez, é de um deficit de até R$ 139 bilhões, mas elementos como a arrecadação abaixo das expectativas do governo e a previsão incerta de receitas extraordinárias ameaçam o seu cumprimento.

A sinalização de Meirelles ocorre quase uma semana depois de o governo anunciar aumento nos impostos sobre combustíveis, também sob a justificativa de colocar "as contas em ordem", conforme diz o presidente. Ou seja, para resolver o rombo de forma "definitiva e equilibrada", o Palácio do Planalto dependerá também do Congresso, que analisa ao menos duas medidas provisórias que gerariam as chamadas receitas extraordinárias.

Mesmo assim, o governo terá de trabalhar para ampliar os resultados previstos com a aprovação dessas medidas, que foram alteradas durante a tramitação no Legislativo. O impacto original das receitas seria de cerca de R$ 15 bilhões, porém há previsão de que a aprovação dessas MPs gere apenas R$ 500 milhões ao Tesouro.

Especialistas alertam que os prejuízos do não cumprimento da meta fiscal são piores do que sua revisão. "Esse resultado é, sim, preocupante, pois geralmente o resultado do primeiro semestre sempre se mostra melhor que o do segundo semestre, isso porque no segundo semestre existem obrigações extras como décimo terceiro salários de servidores e beneficiários do sistema previdenciário", disse a pesquisadora do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), Vilma da Conceição Pinto ao Nexo.


IMPRECISO

Dediquei-me a criar novos empregos. E já conseguimos resultados expressivos neste ano. O emprego está voltando.

A afirmação de Temer de que o desemprego tem caído no Brasil provavelmente tem como base o fato de que, no trimestre encerrado em junho de 2017, o desemprego recuou 4,9%, para 13,5 milhões de pessoas, em relação ao período de janeiro a março deste ano.

No entanto, em comparação a igual trimestre do ano anterior (abril, maio, junho), quando havia 11,6 milhões de pessoas desocupadas no país, o desemprego, na verdade, cresceu 16,4%. A comparação anual é, muitas vezes, considerada mais adequada por refletir fatores sazonais. Exemplo disso é que, no começo do ano, muitos temporários que trabalharam nas vendas de fim de ano voltam ao desemprego.

Como, grosso modo, o emprego "está voltando" em relação ao começo do ano, mas não em relação ao seu início de período como presidente, Aos Fatos considerou a afirmação IMPRECISA por desconsiderar uma base comparativa clara e usar apenas os fatores positivos de um cenário mais amplo e complexo.


FALSO

Batemos recordes históricos nas exportações.

Considerando a série histórica desde 1998, o Brasil ainda não bateu recorde em 2017 em faturamento nem em taxa de crescimento. O maior faturamento de exportação entre janeiro e julho foi em 2011, de US$ 140,6 bilhões de dólares.

Já a maior taxa de crescimento nos sete primeiros meses do ano ocorreu em 2004, quando as exportações cresceram 33,8% na comparação anual. De janeiro a julho de 2017, as exportações brasileiras somaram US$ 126,5 bilhões, uma alta de 18,7% em relação ao mesmo período do ano passado. As informações são da balança comercial divulgada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Caso Temer tivesse se referido ao saldo da balança comercial no período, teria acertado: de acordo com dados não ajustados do MDIC, esse é o maior saldo (exportações - importações) pelo menos desde 1998, totalizando US$42,5 bilhões.


VERDADEIRO

Batemos recordes históricos de produção na agropecuária.

A produção agrícola brasileira de 2017 deve atingir um recorde histórico e somar 240,3 milhões de toneladas, uma alta de 30,1% em relação a 2016, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse valor, no entanto, é apenas uma estimativa divulgada em junho e atualizada mensalmente.

Em relação a faturamento, o VBP (Valor Bruto da Produção), que corresponde ao faturamento agrícola obtido nos 26 principais produtos agropecuários (lavouras e criação de animais) do país, é o maior da série desde pelo menos 1995, segundo dados do Ministério da Agricultura ajustados pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna).

Nos últimos quatro trimestres até junho de 2017, o VPB atingiu R$ 536 bilhões, o maior patamar da série.

https://www.sharethefacts.co/share/a61fc03a-4e11-49f4-bcea-56374c5e38fd

https://www.sharethefacts.co/share/0c65d4b2-a79a-4b92-97df-22ed37a9530e


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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