🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Sites publicam informações falsas sobre investimento do BNDES no Museu Nacional

Por Alexandre Aragão

4 de setembro de 2018, 19h40

Não é verdade que o Museu Nacional recebeu R$ 52,2 milhões este ano do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), como vêm publicando alguns sites desde o incêndio que destruiu o palacete e a maior parte do acervo do museu mais antigo do Brasil no domingo (2).

Em junho último, o museu e o banco celebraram um contrato de financiamento no valor de R$ 21,7 milhões, cuja primeira parcela, de R$ 3 milhões, seria repassada em outubro, como mostrou Aos Fatos na última segunda-feira (3). O restante seria pago a conta-gotas dentro de quatro anos.

Essa verba somaria-se a outros R$ 24 milhões já investidos no museu não pelo BNDES, mas por diversas outras fontes, como a Petrobras, desde os anos 1990. A assessoria do Museu Nacional disse não ter mais detalhes sobre os financiadores e os projetos, pois essas informações teriam se perdido no incêndio.

Para dizer que o BNDES já repassou R$ 52,2 milhões ao Museu Nacional, os sites Diário do Poder, Publica Brasil, Brasil Soberano e Livre e Sentimentos da Alma somaram os R$ 24 milhões oriundos de outras fontes a R$ 28,5 milhões, que é o total orçado pelo Museu Nacional para a terceira fase do projeto. É nessa quantia que está inserida a verba prometida pelo BNDES, os R$ 21,7 milhões citados anteriormente.

Os textos dos sites erram ainda ao dizer que uma parcela do investimento do BNDES foi liberada imediatamente, em junho, o que não aconteceu, de acordo com o banco, o Museu Nacional e o Ministério da Cultura.

Após a publicação, o Diário do Poder enviou e-mail ao Aos Fatos para obter esclarecimentos sobre esta checagem, que classificou a publicação deles como FALSA. A nossa equipe já havia tentado contato com o site na segunda-feira (3), sem sucesso.

Todas as informações solicitadas foram prestadas por Aos Fatos, e o Diário do Poder retirou do ar o texto e o substituiu por outro, com os dados corretos. Assim, Aos Fatos decidiu remover a marcação feita na ferramenta de verificação do Facebook. Já o texto reproduzido pelo Publica Brasil permanece lá classificado como FALSO (entenda como funciona).

Leia abaixo, em detalhes, o que checamos.


FALSO

Museu recebeu R$ 24 milhões no 1º semestre e R$ 21,7 milhões em junho. Que fim levou o dinheiro?

Ao contrário do que publicaram os sites Diário do Poder (conteúdo já removido e retificado), Publica Brasil, Brasil Soberano e Livre e Sentimentos da Alma, o Museu Nacional não havia recebido qualquer repasse financeiro do BNDES até o momento do incêndio. O que houve, na verdade, foi somente a assinatura de um contrato de financiamento, via Lei Rouanet, no valor de R$ 21,7 milhões, destinado à reforma da instituição. Nenhum valor foi liberado naquela ocasião.

Em nota publicada na segunda-feira (3), o BNDES afirmou que a primeira parcela, no valor de R$ 3 milhões, seria depositada em outubro justamente para servir ao projeto executivo de combate a incêndios na instituição, que completou 200 anos em 2018. O valor restante seria repassado ao museu em parcelas ao longo dos próximos quatro anos, como mostrou Aos Fatos nesta segunda-feira.

Em outra nota, divulgada no dia da assinatura do contrato, o BNDES afirmou: “O apoio do banco destina-se à terceira fase do plano de investimento para a revitalização do Museu Nacional — que totaliza R$ 28,5 milhões — e soma-se aos R$ 24 milhões investidos nas duas fases anteriores”.

Esses R$ 24 milhões a que o texto faz referência são a soma de repasses que a UFRJ, que gerencia o Museu Nacional, recebeu ao longo de vários anos e não têm qualquer ligação com o BNDES. Em nota enviada ao Aos Fatos, o banco esclareceu que “não participou da primeira e segunda fases do plano de investimento para revitalização do Museu Nacional”.

Mesmo na terceira fase, orçada em R$ 28,5 milhões, a parte que coube ao BNDES foi de R$ 21,7 milhões. Ainda assim, os sites Diário do Poder e Publica Brasil somaram esse valor aos R$ 24 milhões para dizer que o banco de fomento já havia repassado este ano R$ 52,2 milhões ao Museu Nacional, o que é falso.

Procurada por Aos Fatos, a área de comunicação do Museu Nacional afirmou que não poderia fornecer dados detalhados sobre as duas primeiras fases do plano de investimento para revitalização, como valores exatos e datas, porque os documentos foram perdidos no incêndio.

A assessoria do museu explicou, porém, que esses R$ 24 milhões foram recebidos e utilizados em projetos de vários anos atrás, como a reforma do telhado, concluída em 2001, e a restauração da fachada, que foi concluída em 2009 e custou R$ 1,2 milhão (em valores da época), repassados pela Petrobras via Lei Rouanet.

Em entrevista coletiva na segunda-feira (3), o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, corroborou a informação do banco de fomento: “O contrato com o BNDES foi assinado no dia 6 de junho. A previsão para o primeiro repasse era justamente agora o mês de outubro, seria repassada a primeira etapa de R$ 3 milhões. Infelizmente, o incêndio aconteceu antes disso”, afirmou. “Não foi possível [fazer o repasse antes] porque ainda eram necessários ajustes no projeto.”

Já o ministro da Educação, Rossieli Soares, declarou que a pasta liberou verbas extraordinárias após o incêndio: “A liberação dos recursos, destes primeiros R$ 10 milhões, será imediata, lembrando que essa será para a parte emergencial da garantia da estrutura física que aqui está [no museu], que é muito importante que seja preservada. São recursos do Ministério da Educação que serão alocados para cá”.

Aos Fatos entrou em contato com o site Diário do Poder via WhatsApp - único meio de contato visível na página - na última segunda-feira (3) para questioná-los a respeito das informações contidas no texto, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem, na noite desta terça-feira (4).

Horas após a publicação, porém, Aos Fatos foi procurado por e-mail por Tiago de Vasconcelos, diretor de redação do Diário do Poder, para obter mais esclarecimentos a respeito da classificação do conteúdo no Facebook, no que foi atendido por nossos editores.

Posteriormente, o site reconheceu o erro, informou que apagou o texto e os posts das redes sociais do Diário do Poder e republicou o conteúdo com as informações corretas. Aos Fatos, assim, decidiu remover a marcação feita na ferramenta de verificação da rede social.

Já o post do site Publica Brasil, que reproduziu o texto do Diário do Poder, mas não respondeu às solicitações do Aos Fatos e nem fez retificações, permanece marcado na ferramenta como FALSO.

Colaborou Bernardo Moura


*Esta checagem foi alterada às 16h13 de quarta-feira (5) para incluir informações a respeito do contato feito pelo site Diário do Poder com Aos Fatos.

*Esta checagem foi alterada às 18h05 de quarta-feira (5) para inclusão de menções às publicações do conteúdo checado nos sites Brasil Soberano e Livre e Sentimento da Alma.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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