Marcelo Camargo/Agência Brasil

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Rodrigo Maia usa números imprecisos sobre Previdência na TV

Por Luiz Fernando Menezes

18 de maio de 2018, 14h20

Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara dos Deputados, foi o entrevistado do último Band Eleições, que foi ao ar na segunda, 14. Citou impactos da crise fiscal, defendeu a importância das reformas — principalmente da Previdência —, e passou grande parte da entrevista defendendo seu partido e os novos nomes na política.

Além disso, no programa, disse que é, sim, pré-candidato à presidência da República, mesmo oscilando entre 1% e 2% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Em parceria com o UOL, Aos Fatos checou suas respostas.


IMPRECISO

A Previdência já consome 13% do nosso PIB...

Considerando todos os regimes previdenciários nacionais, não apenas de civis e federais, mas também de militares, estaduais e municipais, a Previdência de fato chega em torno 13% do PIB, segundo o Ministério da Fazenda, corroborando, em termos gerais, o que disse o pré-candidato.

No entanto, o selo é IMPRECISO por dois motivos:

1. Ele não especificou a abrangência que considera em relação aos gastos. O próprio Ministério da Fazenda não discrimina dados de Estados e municípios em sua apresentação oficial sobre o balanço previdenciário de 2017. (Os dados previdenciários mais recentes municipais e Estaduais que Aos Fatos encontrou são de 2016);

2. A proposta de reforma da Previdência, com suas idas e vindas, não esclarece em caráter definitivo a situação de militares e de Estados e municípios -- nestes últimos, o próprio Maia já defendeu em 2017 a não inclusão dessas áreas na reforma. O presidente Michel Temer, por sua vez, afirmou que governos estaduais e prefeituras devem ter autonomia em mudanças previdenciárias locais.

O PIB brasileiro totalizou R$ 6,56 trilhões em 2017, de acordo com o IBGE. No mesmo ano, a despesa com os benefícios da Previdência Social foi de R$ 680,7 bilhões, levando em conta o Regime Geral de Previdência Social e os regimes de servidores públicos federais civis e militares. Sendo assim, a despesa previdenciária federal, sem considerar servidores de Estados e municípios, representaria aproximadamente 10,37% do PIB.

Em 2016, o PIB brasileiro fechou em R$6,27 trilhões e foram gastos R$515,9 bilhões com as pensões previdenciárias do regime geral de previdência e R$ 273,7 bilhões com os regimes próprios de servidores públicos federais, estaduais e municipais. Isso significa que, no ano passado, a despesa da Previdência Social chegou a 12,6%.

Por fim, se considerarmos apenas o Regime Geral da Previdência Social, a relação dos gastos previdenciários em relação ao PIB em 2017 ficou em 8,4%, segundo o Ministério da Fazenda.

Erramos: a reportagem foi publicada com uma correção em relação ao texto da primeira checagem, publicada no UOL. Foi incluído o dado geral -- incluindo militares, Estados e municípios -- sobre gastos previdenciários sobre o PIB. Anteriormente, o número apontado havia sido de 8,5%, mas esse dado considera apenas o Regime Geral de Previdência Social. A informação correta é de 13%.

O selo, no entanto, é IMPRECISO devido ao contexto geral da reforma da Previdência na qual o pré-candidato fez sua afirmação, conforme explicado nos itens 1 e 2, no texto acima.


EXAGERADO

... Mais do que o Japão, que é uma população três vezes mais velha que a brasileira.

Segundo o Japan Statistical Yearbook 2018, em 2016, último dado disponível, o Japão tinha uma população 126,93 milhões de habitantes. Destes, 42,7 milhões são pessoas com mais de 60 anos de idade, o que significa cerca de 33,6% do total. O PIB japonês em 2016, de acordo com o Banco Mundial, foi de U$4,94 trilhões. Levando em consideração os dados da OECD, também de 2016, o Japão gastou cerca de 10,2% de seu PIB com as pensões públicas (mais ou menos U$503 bilhões).

Como já dito na checagem acima, o PIB brasileiro, em 2016, foi de R$6.266 bilhões e os gastos previdenciários chegaram a 12,6% (incluindo dados com previdência de servidores públicos municipais e estaduais). Sobre a população com mais de 60 anos, segundo a Características Gerais dos domicílios da Pnad 2016, 14,4% pertencia a esse grupo.

Em relação a 2017, o PIB foi de R$6,56 trilhões e as despesas previdenciárias chegaram a 10,37% desse valor (excluindo dados com previdência de servidores públicos municipais e estaduais). Já em relação à população idosa, o último dado divulgado pelo IBGE é o da Características Gerais dos domicílios e moradores da Pnad 2017: no ano passado, as pessoas com mais de 60 anos representavam 14,6% da população.

Logo, a afirmação do presidente da Câmara não se sustenta, já que a população idosa do Japão não é três vezes maior do que a nossa e, por isso, Aos Fatos a considera EXAGERADA.


VERDADEIRO

A crise fiscal profunda que já impacta a extrema pobreza...

Para fins de comparação de dados, consideramos como o início da “crise fiscal profunda” o momento em que o Brasil teve seu primeiro déficit nas contas públicas, em 2014 (R$ -32,53 bilhões).

Pobreza extrema, segundo o Ipea, é quando a família vive com uma renda de até ¼ do salário mínimo. Os índices são divulgados pela Síntese de Indicadores Sociais do IBGE e demonstram que realmente a porcentagem subiu: em 2014, 5,7% dos arranjos familiares pertenciam a esse grupo; em 2015 o número aumentou para 6,6% e, em 2016, atingiu 7,8%.


FALSO

... já impacta a taxa de mortalidade infantil...

A taxa de mortalidade infantil é calculada em número de óbitos do período pré-natal até o pós-natal (antes de completar-se um ano) para cada mil nascidos vivos. De acordo com os indicadores de desenvolvimento sustentável do IBGE, ao contrário do que sugere Maia, o número só vem diminuindo. Em 2014, por exemplo, a taxa estava em 14.4. Em 2015 ela baixou para 13,8 e continuou caindo em 2016, quando chegou a 13,3 mortes para cada mil nascidos vivos.

No entanto, se Maia estiver se referindo aos óbitos de crianças de um a quatro anos o assunto é outro: em 2016, segundo o Datasus, tivemos 6.212 casos, um aumento em relação aos 5.595 casos de 2015. É o primeiro aumento registrado na base de dados desde 2003, quando foram registrados 10.306 casos.


VERDADEIRO

... impacta o desemprego fortemente.

O IBGE também divulga a série histórica do desemprego no Brasil com dados mensais. A taxa de pessoas desocupadas no país apresentou um aumento muito significativo de dezembro 2014 (6,5%) até março de 2017 (13,7%).

Como é possível ver no gráfico, houve, porém, uma leve diminuição na quantidade de desempregados no país de março a dezembro de 2017. A taxa de desocupação voltou a subir a partir de então e, em março deste ano, últimos dados disponíveis, atingiu 13,1%.

Entretanto, como Aos Fatos já mostrou, esse período de diminuição do número de pessoas desocupadas foi causado pelo aumento da informalidade do mercado de trabalho e por isso a frase foi considerada VERDADEIRA.


IMPRECISO

Nós temos hoje uma despesa, o Estado que gasta de salário, para algumas categorias, e na média dá salários 67% maiores do que o setor privado.

Os dados utilizados por Maia aparecem no levantamento feito pelo Banco Mundial no final do ano passado intitulado “Um ajuste justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, que leva em consideração os dados de 2015. No entanto, o deputado não especifica a esfera à qual se refere.

De acordo com o texto, os salários do setor público federal são 67% maiores do que os salários do setor privado, enquanto os do setor público estadual são 30% maiores do que os equivalentes no âmbito privado e os do setor público municipal são apenas 1% maiores. Ou seja, o prêmio salarial do setor público é, em média, de 17%. Como Maia não especificou qual dado utilizou, foi dado à afirmação o selo de IMPRECISO.

Vale ressaltar que, levando em consideração que a média da diferença entre os setores público e privado dos 53 países pesquisados é de 16%, o Brasil fica um pouco acima se comparado internacionalmente.

Outro lado. A reportagem entrou em contato com a assessoria do presidente da Câmara, por email. Até a última atualização desta matéria, no entanto, não tinha recebido resposta.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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