🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Julho de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Redes reproduzem versão falsa de que pai de presidente da OAB foi morto pela Ação Popular

Por Luiz Fernando Menezes

30 de julho de 2019, 13h31

É falsa a informação de que Fernando Augusto de Santa Cruz, pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foi morto por membros da APML (Ação Popular Marxista-Leninista) durante a ditadura (veja aqui). Segundo documentos da CNV (Comissão Nacional da Verdade) e da Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Fernando foi preso e morto pelo Estado durante o regime militar.

A informação falsa partiu do presidente Jair Bolsonaro na tarde de segunda-feira (29) e se propagou pelas redes sociais em peças de desinformação. Juntas, as publicações já passam de 8.000 compartilhamentos na tarde desta terça-feira (30). Todas foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (veja como funciona).


FALSO

Felipe Santa Cruz, o bom é que depois desse teu xilique, o mundo inteiro vai saber: teu pai não foi eliminado por militares, mas pelos coleguinhas dele na Ação Popular Marxista-Leninista, pois Fernando Augusto de Santa Cruz não passava de um X9 que entregava seus companheiros comunistas.

Não é verdade que Fernando Augusto de Santa Cruz, pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, foi morto por integrantes da APML durante a ditadura militar, como afirmam publicações nas redes sociais com base em fala do presidente Jair Bolsonaro. Documentos da CNV (Comissão Nacional da Verdade) mostram que Fernando desapareceu em fevereiro de 1974 após ser preso pelo CISA (Centro de Informações da Aeronáutica) enquanto articulava a sua fuga para a Argentina com outros dois membros da APML.

Em depoimento à CNV, o ex-delegado Cláudio Guerra disse que o corpo de Fernando foi incinerado com outros na Usina de Cambahyba, em Campo de Goytacazes, Rio de Janeiro. A comissão, com base em documentos da Aeronáutica, concluiu que Fernando Augusto de Santa Cruz foi preso e morto pelo Estado.

Além disso, a Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos emitiu, na semana passada, o atestado de óbito de Fernando. O documento afirma que ele “faleceu provavelmente no dia 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro/RJ, em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985".

Origem. Na última segunda-feira (29), ao comentar o desfecho do processo que considerou o autor da facada contra ele, Adélio Bispo, inimputável, Bolsonaro criticou a OAB e disse que “um dia, se o presidente da OAB [Felipe Santa Cruz] quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”.

Mais tarde, no mesmo dia, Bolsonaro disse em uma live que “o pai do Santa Cruz integrava a Ação Popular no Recife, era o grupo mais sanguinário que tinha [...] Ele, que era jovem, veio pro Rio de Janeiro. O pessoal da AP ficou estupefato, ‘como pode esse cara vir se encontrar com a gente, o contato tinha de ser com a cúpula da AP no Recife. Eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz. Não foram os militares que mataram ele”.

Suposto depoimento à Globo News. Também é falsa a versão do boato que traz como "fonte" da informação um vídeo em que o ex-integrante da ALN, Carlos Eugênio Paz, confessa ter participado da execução de um colega. O vídeo foi editado para sugerir que Fernando teria sido a vítima. No entanto, na entrevista original, Paz fala da morte de Marcio Leite de Toledo. Não há citação ao nome de Fernando Augusto Santa Cruz no depoimento.

Referências:

1. CNV
2. Revista Época
3. G1 (Fontes 1 e 2)


Esta checagem foi atualizada às 16h44 do dia 30 de julho de 2019 para acrescentar o desmentido sobre a entrevista de Carlos Eugênio Paz à Globo News.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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