Jaime Souzza / Instituto Ayrton Senna

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Quanto custa um aluno no Brasil?

Por Luiz Fernando Menezes

26 de junho de 2018, 19h03

O custo de um aluno brasileiro pode ser determinado pela quantia que o país investe em políticas educacionais. No entanto, o cálculo para determinar esse número não é simples: é preciso levar em conta os diversos níveis de educação e os valores nos núcleos urbanos e rurais, que podem ser diferentes. Alguns órgãos e instituições fazem uma estimativa geral; outros calculam qual seria o mínimo valor necessário para garantir educação de qualidade ou a equiparação da educação brasileira à dos países com os melhores índices educacionais, como a Suíça e a Noruega.

O Ministério da Educação (MEC) define que o valor anual mínimo nacional por aluno é de R$ 2.091,37 para 2018. Mas isso significa que esse é o custo de um aluno do Ensino Fundamental? E no Ensino Médio? E se é o valor mínimo, qual seria então o valor ideal? Para responder a essas perguntas, Aos Fatos, em parceria com a Nova Escola foi atrás de levantamentos atuais sobre o assunto.

Interpretando os números. Em levantamento feito pelo Porvir e pelo Iede, que considera gastos dos países com Educação em relação ao PIB nacional, o Brasil aparece razoavelmente bem no quadro sul-americano. Com 5,95% do PIB investido em Educação em 2014, o país só perde para a Bolívia, que dedica 7,29%. A Argentina aparece logo depois com 5,36%, seguida do Equador com 5,26%. Mas esse investimento parece não se transferir para o êxito educacional de cada aluno brasileiro se comparado a outros estudantes latinos.

Quando se olha para os dados como percentual da população com 25 anos ou mais que chegou ao Ensino Médio e a taxa bruta de matrícula no Ensino Superior, o Chile é o destaque na América do Sul. Números do Relatório de Desenvolvimento Humano de 2016 da Pnud, com dados até 2015, apontam que o Chile aparece na primeira posição com 76,5% dos estudantes chegando ao Médio. A Venezuela aparece em segundo, com 68,9%, Argentina com 62,4% e o Peru, 61,5%. No Brasil, 57,5% da população com 25 anos ou mais chegou ao Ensino Médio. Vale lembrar que aqui a média de anos de estudo é de 7,8 anos para essas pessoas.

“Na série histórica os indicadores educacionais estão melhorando, só que em ritmo abaixo do que determina o Plano Nacional de Educação”, explica José Marcelino Pinto, professor da Universidade de São Paulo e membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Para ele, isso ocorre porque ainda estamos longe das metas e em um cenário econômico desfavorável. “Foi feito um longo estudo sobre o tema e hoje está na lei que 7% do PIB deve ser destinado à educação em 2019 e 10% em 2024, para compensar os anos de sub-investimento, mas o PIB está caindo nos últimos anos”, pontua.

Os valores investidos por aluno mostram ainda a necessidade de maiores gastos e de se pensar as diversidades locais e de nível de ensino. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) apresenta uma estimativa anual de valor aluno/ano do ensino público por Estado desde 2006. Segundo essa base de dados, por exemplo, no nível do Ensino Fundamental verifica-se que há maiores investimentos nas séries finais: enquanto a média é de R$ 3.725,44 anuais no ensino urbano e R$ 4.064,11 no rural, quando o assunto são as séries iniciais os números caem para R$ 3.387,54 e R$ 3.894,77, respectivamente. Já no Ensino Fundamental Integral o valor médio de custo por aluno é maior, de R$ 4.402,79.

Os três Estados com maiores custos em qualquer nível e localidade analisados são Roraima, Rio Grande do Sul e Amapá. Só para se ter um exemplo, no Ensino Médio urbano, esses estados investem, respectivamente, R$ 5.848,90, R$ 5.182,08 e R$ 4.808,84 anuais.

Para que se entenda que esses valores por aluno ainda estão baixos, José Marcelino compara às mensalidades de escolas privadas. “Uma escola de classe média custa R$ 1.500 por mês pelo menos, isso é R$ 18 mil por ano e em tempo parcial”, mostra. Para o professor é necessário diminuir gastos com juros e outros programas de ensino posterior, como o FIES, que desembolsou R$ 33 bilhões em 2016. “A Receita Tributária do Brasil é de 33% do PIB, destinar menos de um terço da receita tributária para a educação é mais do que justo”, afirma.

Médias mundiais e diferenças entre municípios. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acredita que altos valores no custo por aluno traduzem a disposição do país em expandir o acesso e fornecer educação de qualidade.

Em seu estudo “Education at a Glance 2017”, com números de 2014, a média dos países membros da organização era de US$ 10.759 anuais (ou R$ 40.0977) por aluno, levando em conta todos os níveis de educação. Nesse contexto, o Brasil desembolsou apenas metade do valor: US$ 4.240 anuais (R$ 15.806). Essa comparação pode ser ainda pior já que, segundo José Marcelino, não se pode fazer a conversão simples pelo dólar comercial, o que mostra que a diferença é ainda muito maior.

Se separarmos os custos por setores, percebemos que o Brasil só fica próximo à média da OCDE quando o assunto é a educação superior (terciária): nosso país investia, na época, cerca de US$ 11.666 anuais (R$ 43.4967), enquanto a média dos países membros era de US$ 16.143 (R$ 60.2231). Já em relação aos outros níveis, apresentamos custos de US$ 3.837 anuais (R$ 14.3047) na educação secundária (a média da OECD era de R$ 37.6812) e R$ 14.1604 na educação primária a média da OECD era de R$ 32.5680. O professor da USP também explica que os números brasileiros podem ser ainda menores. “Boa parte da educação básica no país sobrevive na faixa de R$ 5.000 por aluno por ano, com exceções apenas para algumas capitais e municípios mais ricos”, afirma Marcelino.

O IDados, em 2017, também calculou o Custo Aluno anual com o objetivo de mensurar o valor total da implementação do novo PNE e identificar custos adicionais necessários para o cumprimento do programa até 2024. Segundo o levantamento, a quantia investida em cada aluno do ensino público varia enormemente — enquanto alguns municípios gastaram até R$ 15 mil por aluno no Ensino Fundamental, outros não chegaram a R$ 5,5 mil.

Assim, a pesquisa prefere utilizar como medida a mediana dos valores, uma vez que, por causa dos municípios com custos muito elevados, a média acaba ficando muito acima do que a maioria das cidades realmente gasta por aluno. A mediana, por outro lado, divide a distribuição de custos por aluno no meio: 50% dos municípios gastam menos do que ela e 50% gastam mais.

O estudo do IDados mostra então que o custo de um aluno do Ensino Fundamental nos municípios brasileiros em 2014 era de aproximadamente R$ 5,5 mil e do Ensino Médio de aproximadamente R$ 4,5 mil. A pesquisa também estimou o quanto os gastos precisam aumentar para cumprir as exigências do PNE: para o Ensino Fundamental, a estimativa é a de que seria necessário gastar R$ 12.346,78 por aluno; já para o Ensino Médio, a estimativa seria de R$ 11.867,13 por aluno.

Além do custo por aluno. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação em vez de calcular o custo do aluno por ano, estima qual deveria ser o valor anual investido no aluno para garantir uma educação pública de qualidade. O índice é chamado de Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e tem o padra?o mi?nimo de qualidade estabelecido no PNE como meta a ser atingida. Os custos mais atualizados estão disponíveis no estudo “Quanto custa a educação pública de qualidade no Brasil?”.

Ao comparar os valores mínimos do Fundeb (o menor valor estimado nos Estados no ano) com os do CAQi — ou seja, o quanto o país aplica em comparação com o que ele deveria aplicar para garantir uma qualidade mínima de educação pública — é possível perceber o quanto o Brasil ainda precisa investir. Em 2018, o CAQi do Ensino Médio urbano é estimado em R$ R$5.454,74, enquanto o Fundeb calculou um valor mínimo de R$ 3.770,00, totalizando uma diferença de R$ 1.684,74 e esse é o nível com a menor diferença entre o CAQi e o Fundeb.

Nas creches urbanas de tempo integral, etapa com maior diferença, a Campanha Nacional estimou um valor/aluno de R$ 12.307,11, mas o FNDE só estipulou um valor mínimo de R$3.016,67, uma diferença de R$ 9.290,44. Resumindo: de acordo com esses dados, o Brasil deveria investir até cinco vezes mais do que gasta hoje para garantir uma educação pública de qualidade. O professor da USP explica que esse valor estimado, apesar de discrepante à realidade, é coerente. “Uma creche privada em tempo integral custa em média R$ 1.000 por mês, diria que investir mais é mais do que razoável, é necessário”, defende.

Colaborou Judite Cypreste e Paula Calçade.

Este texto foi corrigido em 27.jun.2018, às 15h03. O Relatório de Desenvolvimento Humano da Pnud citado no quarto parágrafo não é de 2015, mas sim de 2016, com dados até 2015. Também corrigimos a média de anos de estudos da população brasileira com 25 anos ou mais citada no mesmo parágrafo, que é de 7,8 anos, não de 7,6 anos. Além disso, acrescentamos a informação sobre a porcentagem da população do Brasil com 25 anos ou mais com pelo menos ensino médio.

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