🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

ONU não disse que levar crianças à igreja é violação dos direitos humanos

Por Alexandre Aragão

3 de setembro de 2018, 20h55

Ampara-se em informações falsas texto publicado pelo site Gospel Prime dando conta de que um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que “levar crianças à igreja é violação dos direitos humanos”. Na verdade, o documento trata apenas de crianças do Reino Unido, algumas das quais são obrigadas a comparecer a atos religiosos cristãos em escolas públicas, sem a opção de não participar.

A notícia falsa circula na internet desde 2016, mas, somente na última semana, angariou cerca de 8.000 compartilhamentos em diferentes páginas do Facebook. Denunciada por usuários daquela rede social, a publicação foi marcada por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação do Facebook (entenda como funciona).

A mesma notícia e versões semelhantes a ela foram reproduzidas também por sites como Rainha Maria, Mulher Vestida de Sol e Mundo News Online.

Confira, abaixo, o que checamos.


FALSO

ONU afirma que levar crianças à igreja é 'violação dos direitos humanos'

O relatório a que o site Gospel Prime faz referência foi divulgado em junho de 2016 e está disponível online. O documento, feito pelo Comitê dos Direitos da Criança da ONU, trata da situação das crianças nos países do Reino Unido, como Inglaterra, Irlanda do Norte e Escócia.

Na página 7, o relatório diz: “o comitê está preocupado que estudantes sejam obrigados por lei a participar de atos religiosos diários que são ‘totalmente ou em grande parte de base cristã’ em escolas públicas na Inglaterra e no País de Gales, e que as crianças não têm o direito de optar, até o ensino médio, por deixar de comparecer a esses atos religiosos sem a permissão dos pais. Na Irlanda do Norte e na Escócia, crianças não têm o direito de deixar de comparecer a atos religiosos sem a permissão dos pais”.

Em seguida, o comitê faz uma recomendação para que os países do Reino Unido deixem de obrigar estudantes a participar de atos religiosos em escolas públicas e autorizem que eles possam optar de modo independente, sem a necessidade de permissão dos pais, se querem ou não participar desse tipo de culto. Ou seja, não se trata de levar crianças à igreja, mas levá-las à força, a despeito de sua fé.

Após a publicação do relatório da ONU, políticos do Partido Conservador no Reino Unido se posicionaram contrários à conclusão. Grupos que advogam pelo Estado laico, por outro lado, endossaram o documento. Até hoje, porém, não houve nenhuma mudança na legislação.

O texto do Gospel Prime omite que o relatório trata de cultos em escolas públicas e afirma, falsamente, que a conclusão do documento é que “frequentar a igreja poderia ser uma violação dos direitos humanos”. Porém, em nenhum trecho o relatório afirma isso ou faz julgamento de valor sobre os atos religiosos em si, apenas ao fato de que estudantes são obrigados a comparecer à liturgia.

Essa notícia falsa surgiu primeiro em inglês, em junho de 2016, quando um site chamado Charisma News publicou um texto com o título: “Levar crianças à igreja viola os direitos humanos delas, diz ONU”. Na época, o conteúdo foi desmentido pelo site de checagem norte-americano Snopes.

A versão em português foi escrita pelo Gospel Prime no mês seguinte e, já naquela época, desmentida pelo site Boatos.org. O conteúdo, porém, voltou a circular e, na última semana, viralizou. A página O Brazil de Fora do Brasil publicou o link na sexta-feira (31) e, desde então, teve 7.250 compartilhamentos e 1.328 reações. Na página Direita Vive 3.0, em que o link foi publicado no domingo (2), há 444 compartilhamentos e 1.436 reações.

Segundo dados do CrowdTangle, ferramenta do Facebook para análise de conteúdo, o link já teve 186 mil reações e 39 mil compartilhamentos na rede social desde que foi criado.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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