🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

O que é fato nas declarações de Haddad na última semana

Por Judite Cypreste e Ana Rita Cunha

22 de outubro de 2018, 21h35

Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República, concedeu entrevistas e publicou uma série de declarações em seus perfis nas redes sociais na última semana. Aos Fatos checou cinco delas e constatou que o petista foi impreciso ao citar dados de educação no Ceará, exagerou sua posição nas recentes pesquisas eleitorais e também baseou-se em uma informação inexistente ao comentar a resolução de homicídios no Brasil. O presidenciável, por outro lado, acertou ao falar sobre a quantidade de hospitais federais no Rio de Janeiro e sobre a geração de empregos nos governos do PT.

Veja, abaixo, o que checamos.


IMPRECISO

Hoje, das 100 melhores escolas públicas do país, 82 estão no Ceará. — Fernando Haddad, em seu perfil no Twitter

A afirmação dita pelo candidato é IMPRECISA, pois o número apresentado só é verdadeiro para o ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2017 dos anos iniciais do ensino fundamental, ou seja, do 1° ao 5° ano. Se observamos a nota do Ideb para os anos finais, ou seja do 6° ao 9° ano, o Ceará possui 54 escolas entre as cem melhores classificadas no ranking do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão responsável pelo índice. No ensino médio, apenas cinco escolas do estado estão entre as cem melhores do país..

Nos dois rankings do Ideb de 2017 do ensino fundamental, o Ceará é o estado com o maior número de escolas entre as cem melhores. No ranking das escolas de ensino médio, Minas Gerais, com 27 escolas, e São Paulo, com 22 escolas, são os estados com mais instituições entre as cem melhores desse ciclo escolar.


EXAGERADO

O que nos separa da vitória são oito ou nove pontos para afastar esse fantasma. — Fernando Haddad, em seu perfil no Twitter

A mensagem de Fernando Haddad foi publicada no dia 16 deste mês, e segundo as duas últimas pesquisas publicadas até a postagem — Datafolha, divulgada no dia 11, e Ibope, no dia 15 — a vantagem seu adversário Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno era de “8 ou 9” pontos apenas no levantamento de intenção de votos. Quando são considerados só os votos válidos, a diferença entre os dois candidatos aumenta, chegando a até 14 pontos percentuais. Por esse motivo, a declaração do petista é EXAGERADA.

A pesquisa Datafolha mostra que, entre os votos válidos, Bolsonaro figurou com 58% contra 42% de Haddad. Mesmo diminuindo dois pontos de Bolsonaro e aumentando em dois o do petista — considerando os limites da margem de erro — a diferença seria de 12 pontos, mais do que afirmou Haddad em seu Twitter.

É apenas na intenção de voto desta pesquisa que os dados mostram diferença de nove pontos. Bolsonaro tinha 49%, e Haddad, 36%. Votos em branco/nulos eram 8% e eleitores indecisos 6%. Esse resultado, no entanto, não é usado para a apuração das urnas e serve apenas para fins de análise eleitoral.

Na pesquisa Ibope, publicada no dia anterior ao tweet de Haddad, a diferença é ainda maior: 14 pontos percentuais separam os dois candidatos. Bolsonaro figurava com 59% dos votos válidos, contra 41% do ex-prefeito de São Paulo. Para a intenção de voto, 52% seriam para o candidato do PSL, contra 37% de Haddad, 9% branco ou nulo e 2% não sabiam ou não responderam.


INSUSTENTÁVEL

Só 8% dos homicídios levam alguém pra cadeia. — Fernando Haddad, em entrevista ao SBT

A afirmação do candidato é INSUSTENTÁVEL, pois não existem pesquisas e estudos que comprovem o número com exatidão. Esse percentual de elucidação em casos de homicídio, no entanto, é bastante usado por pesquisadores e especialistas em diversas bibliografias e já foi checado por Aos Fatos em outras ocasiões. O dado consta também em um documento oficial da Enasp (Estratégia Nacional de Segurança Pública), uma comissão que reúne o Ministério da Justiça, o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público. Ele é atribuído a uma pesquisa da Associação Brasileira de Criminalística que, em 2011, teria constatado que a taxa de esclarecimento variava entre 5% e 8%. Aos Fatos entrou em contato com a associação, mas não encontrou essa pesquisa.

O Truco, projeto de checagem da Agência Pública, também checou essa afirmação, dita por Ciro Gomes (PDT), ainda no período do primeiro turno. À agência, o Instituto Sou da Paz afirmou que a pesquisa não existe. “O que existe são pesquisas regionais que precisam ser avaliadas por não seguirem um mesmo padrão”, Bruno Langeani, gerente de sistemas de justiça e segurança pública do Sou da Paz.

Há, no entanto, tentativas de mensurar a capacidade de investigação no país. Em 2012, o Conselho Nacional do Ministério Público fez um levantamento e identificou que dos 43.123 inquéritos monitorados no Brasil, 78% foram arquivados por impossibilidade de se chegar aos autores.

No ano passado, um levantamento do Instituto Sou da Paz mostrou que 21 unidades federativas não têm dados sobre investigação e denúncia de envolvidos em assassinatos. Só seis conseguiram calcular um índice de esclarecimento desses crimes: Pará (4%), Rio de Janeiro (11%), Espírito Santo (20%), Rondônia (24%), São Paulo (38%) e Mato Grosso do Sul (55,2%). Com um estudo publicado em outubro de 2017, o Instituto também mostrou que em São Paulo, sobre uma amostra representativa de inquéritos de homicídio doloso, 34% geraram denúncias penais e apenas 5% chegaram a ser julgados. O instituto defende a criação de um Indicador Nacional de Investigação de Homicídios para mensurar o desempenho das investigações criminais de cada estado.


VERDADEIRO

O Estado do Rio de Janeiro é o Estado que mais hospitais [universitários] federais tem. — Fernando Haddad, em entrevista à rádio Tupi

O Rio de Janeiro possui dez instituições de saúde mantidas por universidades federais. Ao todo, são oito unidades sob tutela da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), uma sob a administração da UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e também há uma unidade mantida pela UFF (Universidade Federal Fluminense).

Apenas os estados do Pará, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Minas Gerais têm mais de uma instituição de saúde deste tipo.


VERDADEIRO

Criamos 20 milhões de empregos em 12 anos. — Fernando Haddad, em uma entrevista ao SBT

É VERDADEIRO o montante de empregos criados ao longo dos 12 anos de governo do PT. De acordo com a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), em 2002, o Brasil tinha 28,68 milhões de empregados formais, e, em 2014, último mandato completo de governo petista, chegou a 49,57 milhões. Ou seja, nesses três mandatos completos, foram gerados 20,89 milhões de empregos.

Ainda que a informação seja verdadeira, vale lembrar que Haddad omite os dados negativos do último ano completo de governo de Dilma Rousseff. Em 2015, quando Rais demonstrou que houve uma queda no número de empregos: naquele ano, 48,06 milhões de pessoas estavam empregadas, uma queda de quase 1,5 milhão.

A Rais disponibiliza, anualmente, o estoque (número de empregos) e a movimentação de mão de obra (admissões e desligamentos) dos setores privado e público. Na contagem não são levados em consideração o número de empregos informais criados.

Esta mesma afirmação já foi dita pelo candidato na ocasião do lançamento da sua candidatura e checada por Aos Fatos.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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