🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

O mau desempenho da educação básica brasileira no Pisa em quatro gráficos

Por Ana Rita Cunha e Bruno Fávero

3 de dezembro de 2019, 15h46

Os dados do Pisa 2018 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) foram divulgados nesta terça-feira (3) e mostraram que o Brasil repetiu o desempenho ruim de anos anteriores: o país ficou entre os 20 piores nas três habilidades avaliadas — leitura, matemática e ciências — e está com as notas estagnadas desde 2009.

O levantamento, que avaliou mais de 600 mil alunos de 15 anos em 79 países e territórios, mostrou que muitos estudantes não têm sequer conhecimentos básicos sobre as matérias. Cerca de 43% dos avaliados brasileiros não conseguiram atingir um nível de proficiência mínima em nenhuma das três habilidades (leitura, matemática e ciências). Nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que organiza o exame) esse número é 13%.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, que havia previsto que o Brasil ficaria em último lugar no exame (o que não aconteceu), disse que a culpa do desempenho ruim é dos governos do PT, que foram de 2003 a 2016.

O país com melhor resultado no exame foi a China. As províncias de Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong (avaliadas em conjunto) lideraram o exame nas três categorias.

Abaixo, veja quatro gráficos que revelam a situação da educação brasileira segundo o Pisa.

1.

O desempenho dos alunos brasileiros está estagnado desde 2009 e é significativamente pior do que a média dos países da OCDE, grupo majoritariamente formado por nações desenvolvidas. Entre os 79 países avaliados, o Brasil está entre os 20 piores nas três habilidades avaliadas (leitura, matemática e ciências).

Em leitura, o país teve média de 413 pontos, 74 a menos que a média dos países da OCDE (487 pontos). O primeiro colocado foi a China (apenas as cidades de Beijing, Xangai, Jiangsu e Guangdong foram avaliadas e marcaram 555 pontos), seguida de Cingapura (549) e Macau (outro distrito chinês avaliado separadamente, 551 pontos). Na América Latina, o Chile alcançou a melhor nota (452 pontos).

O resultado do Brasil melhorou pouco desde que o país passou a participar do exame, em 2000, quando os estudantes brasileiros obtiveram uma média de 396 pontos. Desde 2009, quando a média foi de 412, a pontuação não varia significativamente.

Em matemática, o Brasil ficou ainda mais distante da média da OCDE, com 384 pontos contra 489, uma diferença de 105 pontos. De novo, China (591), Cingapura (569) e Macau (658) ficaram nas primeiras três posições. Na América Latina, o Uruguai (418 pontos) teve o melhor desempenho.

Essa foi a habilidade na qual o Brasil mais evoluiu nas últimas décadas— em 2003, os alunos alcançaram apenas 356 pontos. Ainda assim, também não houve variação significativa desde 2009, quando o país registrou 386 pontos.

Por fim, o desempenho do Brasil em ciências repete o padrão dos anteriores: muito abaixo da OCDE (404 contra 489 pontos, 85 a menos) e estagnado desde 2009, quando o país marcou média de 405 pontos. Mais uma vez, China (590), Cingapura (551) e Macau (544) lideram a habilidade no mundo; o Chile (444) é o melhor da América Latina.

2.

O Brasil também se sai mal na proporção de alunos com nível mínimo de proficiência. Cerca de 43% dos alunos do país não atingiram essa exigência em nenhuma das três habilidades, enquanto o mesmo acontece a apenas 13% dos alunos dos países da OCDE.

O desempenho nas provas é classificado em sete níveis (1a, 1b, 2, 3, 4, 5 e 6). Para atingir o mínimo de proficiência, é preciso ficar no nível 2 ou acima, o que tem diferentes significados práticos para cada habilidade.

Em leitura, apenas metade dos estudantes brasileiros alcançou pelo menos o nível de aprendizado básico (contra 77% da OCDE). Isso significa que o aluno é capaz de "identificar a principal ideia de um texto de extensão moderada, encontrar informações com base em critérios explícitos [...] e refletir sobre o propósito e o formato do texto", segundo a OCDE.

Em matemática, só 32% dos brasileiros (76% de estudantes da OCDE) obtiveram proficiência mínima, o que significa que conseguem “interpretar e reconhecer, sem instrução direta, como uma situação simples pode ser representada matematicamente (por exemplo, comparar a distância entre duas rotas ou converter preços para outra moeda)".

Já em ciências, 45% dos alunos brasileiros (78% na OCDE) têm pelo menos o nível básico de aprendizado. O patamar mínimo significa que o aluno consegue "identificar a explicação correta para fenômenos científicos conhecidos".

Apenas 2% dos brasileiros tiveram um desempenho considerado alto (níveis 5 e 6) em leitura (9% na OCDE), 1% em matématica (11% na OCDE) e 1% em ciências (11% na OCDE).

3.

A situação socioeconômica é um fator importante para entender a performance dos alunos no Brasil. Os dados do Pisa mostram que há uma diferença maior entre os desempenhos dos alunos mais pobre e o dos mais ricos, no Brasil, em comparação com a média dos países da OCDE.

Entre os jovens brasileiros mais pobres, 67,3% estão abaixo do nível básico de aprendizado em leitura, ou seja, não são capazes de compreender textos relativamente simples. Entre os mais ricos, 27,6% não atingiram o nível mínimo na habilidade. Entre os países da OCDE, em média, 35,6% dos mais pobres e 10,7% dos mais ricos têm desempenho em leitura abaixo do mínimo.

Isolamento social. Os dados do Pisa também apontam que o Brasil está entre os cinco países com menor diversidade socioeconômica dentro das escolas. Segundo o relatório da OCDE, a pouca diversidade faz com que os jovens tenham menos capacidade de se comunicar com pessoas de origens diferentes. A segregação social também aprofunda a relação entre pobreza e baixo rendimento escolar, pois jovens mais pobres costumam frequentar sempre as mesmas escolas, com menos recursos.

A pobreza também afeta o sentimento de pertencimento à escola e as ambições futuras. Os jovens mais pobres se sentem mais deslocados na escola (32,8%) do que os mais ricos (24,1%). Além disso, 1 em cada 10 jovens pobres acredita que não vai concluir o ensino superior. Essa proporção é menor entre os jovens mais ricos: 1 em cada 25 acha que não ,vai completar o ensino superior.

4.

O desempenho escolar de meninas e meninos varia conforme a habilidade. O Brasil acompanha a tendência dos países da OCDE na qual meninas têm notas mais altas do que meninos em leitura, e meninos têm melhor nota em matemática.

No Brasil, as meninas tiveram, em média, 26 pontos a mais em leitura do que os colegas do sexo masculino. Essa tendência se mantém desde 2006.

Por outro lado, em matemática, os meninos continuam com melhor desempenho, mas a diferença para as meninas vem reduzindo ao longo das últimas edições do Pisa. Em ciências, a diferença vinha caindo desde 2006, e, na prova de 2018, média da nota das alunas ultrapassou à dos meninos.

Proficiência. Os resultados do Pisa no Brasil mostram que a maioria das meninas tem ao menos o mínimo de conhecimento em leitura (55,7%) enquanto a maioria dos meninos (55,%) estão abaixo do nível mínimo de aprendizado nessa área. Entre os países da OCDE, em média, 27,6% dos meninos e 17,5% das meninas não têm o mínimo básico em leitura.

Em matemática, mais de 60% das meninas e meninos brasileiros estão abaixo do nível mínimo de proficiência. O resultado é muito pior do que a o da média dos países da OCDE, nos quais menos de 25% dos meninos e meninas não atingiram o mínimo de aprendizado na disciplina. No Brasil, menos de 30% da meninas sabem ao menos o básico de matemática, entre os meninos, essa parcela é de 34%.

Em ciências, a maioria dos jovens (55%), independente de gênero, está abaixo do nível mínimo de proficiência, o que é uma parcela também maior do que a da média dos países da OCDE (menos de 25% estão abaixo do mínimo).

Referências:

1. OCDE

2. Poder 360

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