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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Intervenção militar no Rio usa dados amplos para justificar sucesso de ações localizadas

Por Luiz Fernando Menezes

20 de abril de 2018, 11h45

A comunidade de Vila Kennedy, no Rio de Janeiro, foi, como disse o próprio interventor, o “laboratório” para as ações das tropas da intervenção federal. Ocupada no dia 23 de fevereiro, os 3.200 militares que participaram da ação destruíram barricadas que impediam o avanço da polícia na região, tiraram fotos dos moradores e de seus documentos de identidade e patrulharam a região dia e noite. Feita a experiência, as tropas começaram a deixar o bairro no fim do mês passado.

Para ilustrar os resultados da intervenção na região, a página oficial da intervenção federal do Rio de Janeiro no Twitter divulgou na última quarta-feira (18) dois dados referentes à segurança pública do território. Esses dados, porém, diziam respeito a uma região muito maior do que o foco da ação militar. Aos Fatos os checou.

Veja o resultado abaixo.


IMPRECISO

Na #VilaKennedy, área escolhida como projeto piloto do GIF, o mês de março apresentou destaques: letalidade violenta registrou menor número para o mês de março desde o início da série histórica...

Primeiramente, é necessário explicar que a Vila Kennedy só foi considerada um bairro em agosto do ano passado. Antes disso, o conjunto habitacional, que possui hoje 41,5 mil habitantes, pertencia à jurisdição de Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro. No mapa abaixo, é possível ver indicada com uma seta a região da Vila Kennedy, situada dentro do que corresponde à jurisdição de Bangu.

Por ser um bairro novo, a base de dados do ISP (Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro) ainda não o considera um território. Entretanto, de acordo com a assessoria do instituto, contatada por Aos Fatos, os dados aos quais o tweet se refere são os da 34ª Delegacia de Polícia (ou CISP), que cobre as regiões de Bangu, Gericinó, Padre Miguel, Senador Camará e Villa Kennedy.

Segundo os dados abertos do ISP, em março de 2018, último número disponibilizado na base, foram registrados 10 casos de letalidade violenta. De fato, este é o valor mais baixo registrado no mês de março na série histórica: antes, o posto era do ano de 2015 e 2011, que computaram 11 casos do tipo.

Entretanto, como o GIFRJ (Gabinete de Intervenção Federal do Rio de Janeiro) se referiu ao bairro de Vila Kennedy, mas usou dados de toda a região coberta pela 34ª DP, os dados são IMPRECISOS.

Além disso, vale ressaltar que esse é o menor número registrado nos meses de março da série histórica. Se formos levar todos os meses em consideração, o menor número registrado na série histórica é o de novembro de 2015, quando foram registrados apenas dois casos. Já o mês mais violento foi março de 2004, quando houve 36 casos de letalidade violenta na região.


IMPRECISO

... e roubo de veículos a maior queda desde fevereiro de 2017.

Ainda segundo os Dados Abertos do ISP, houve 158 roubos de carro na região no mês de janeiro de 2017 e 147 no mês de fevereiro. Isso significa que houve uma queda de 11 casos (ou 7%).

Já em fevereiro deste ano, a DP registrou 238 casos do tipo, e em março, 148. Ou seja, houve uma diminuição de 90 casos (ou 48%).

Porém, como já dito na checagem acima, os números utilizados pelo órgão se referem à toda região sob jurisdição da 34ª DP, portanto é IMPRECISO utilizá-los como se fossem apenas da Vila Kennedy.

O dado também não leva em consideração que 148 casos é um número alto de roubo de carros quando comparado à série histórica, sobretudo em outros meses. O menor número registrado foi em maio de 2011, quando houve 41 casos.


Além dos dados divulgados pelo GIFRJ, outros valem ser destacados. Em relação aos casos que apresentaram aumento neste mês de março em relação a fevereiro estão as ameaças (que subiram de 74 para 94 casos), lesões corporais dolosas (que subiram de 109 para 143 casos) e lesões corporais culposas no trânsito (que subiram de 34 para 69). O perfil no Twitter da intervenção federal não menciona esses números.

Já entre os registros que diminuíram entre fevereiro e março deste ano vale destacar os roubos totais (que diminuíram de 771 para 635 casos), autos de apreensão de adolescente por prática infracional (que diminuíram de 15 para três casos) e estupros (que diminuíram de 13 para sete casos).

A intervenção federal teve início em 16 de fevereiro deste ano.

Colaborou Bárbara Libório

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