🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Gráfico desatualizado engana ao comparar mortes por Covid-19 com as de outras doenças

Por Luiz Fernando Menezes

25 de março de 2020, 16h33

Um gráfico desatualizado que compara o número de mortes diárias decorrentes da Covid-19 e de outras doenças tem sido difundido nas redes sociais por publicações que minimizam a letalidade do novo coronavírus. Publicada originalmente pelo site Poder 360 no dia 15 de março, a figura usa dados coletados em 11 de fevereiro, quando a doença havia causado 1.017 mortes na China e uma morte no resto do mundo. Até a última terça, a doença já havia matado 16.231 pessoas.

Além de trazer dados antigos, o gráfico ignora que o número de mortes diárias causadas pela pandemia têm crescido rapidamente – a média pulou de 78,7 no primeiro mês da infecção para 419,7 no segundo. Especialistas consultados por Aos Fatos ainda afirmam que a comparação com outras doenças mascara a gravidade da situação atual, porque, mesmo que a mortalidade do novo coronavírus não seja das mais altas, ele se alastra muito rápido e sobrecarrega os sistemas de saúde.

Nas redes, o gráfico passou a ser compartilhado após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na terça-feira (24), em que ele minimizou a gravidade da pandemia. Sem o devido contexto, as publicações que trazem o material acumulam mais de 3.000 compartilhamentos até a tarde desta quarta-feira (25) no Facebook. Todas foram marcadas com o selo DISTORCIDO na ferramenta de verificação disponibilizada pela rede social (entenda como funciona). Esta marcação é dada às postagens que contém informações verídicas mas são apresentadas em um contexto enganoso.


DISTORCIDO

Um gráfico publicado pelo site Poder360 no dia 15 de março com o número de mortes diárias causadas por doenças vem sendo compartilhado nas redes sociais por perfis que defendem que o novo coronavírus não deveria gerar tanto alarme. No entanto, já na data de sua publicação pelo site jornalístico, o material estava desatualizado porque trazia números de 11 de fevereiro, quando havia 43.103 casos confirmados de Covid-19 no mundo e 1.018 mortes, sendo apenas uma fora da China. Os números atuais são bem maiores: segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), até último dia 24 de março, havia 372.757 casos confirmados e 16.231 mortes causadas pela Covid-19 no mundo.

Além disso, desde que a pandemia começou, o número de mortes diárias têm crescido rapidamente, como é possível constatar no gráfico abaixo. No primeiro mês de surto com dados de mortalidade (23 de janeiro a 22 de fevereiro), a média diária de óbitos foi de 78,7. Já no segundo mês (23 de fevereiro até 22 de março), o número pulou para 419,7 mortes por dia.

Segundo Natália Pasternak, bióloga do IQC (Instituto Questão de Ciência), além de o gráfico estar desatualizado, a comparação não é válida. Em entrevista ao Aos Fatos, ela explicou que “ninguém nega que a doença do novo coronavírus tem letalidade baixa, isto é, mata uma pequena fração daqueles que pegam o vírus. O verdadeiro problema é que o vírus se espalha muito depressa, em ritmo exponencial, e com uma eficiência muito grande: isso quer dizer que muita gente acaba precisando de ajuda médica, hospitalização, UTI, etc., ao mesmo tempo, o que sobrecarrega o sistema”.

A especialista em história das epidemias do IFBA (Instituto Federal da Bahia) Christiane Maria Cruz de Sousa concorda. De acordo com ela, diferentemente de uma doença que mata cotidianamente, como tuberculose e câncer, uma epidemia “surge repentinamente e o número de mortos se acumula. São muitos mortos e doentes que colocam em xeque o sistema de saúde disponível para tratar de tanta gente ao mesmo tempo”.

Em nota enviada ao Aos Fatos, o Poder360 diz que "condena o uso de informações fora de contexto em que foram publicadas e recomenda aos leitores que sempre busquem informações atualizadas em veículos de jornalismo profissional –especialmente em casos de informações relacionadas à saúde pública".

Referências:

1. Aos Fatos
2. Poder360
3. OMS (Fontes 1 e 2)
4. John Hopkins University


De acordo com nossos esforços para alcançar mais pessoas com informação verificada, Aos Fatos libera esta reportagem para livre republicação com atribuição de crédito e link para este site.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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