🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que Vera Magalhães recebe R$ 500 mil mensais da TV Cultura

Por Luiz Fernando Menezes e Tai Nalon

20 de março de 2020, 18h00

Não é verdade que a âncora do programa Roda Viva, Vera Magalhães, recebe R$ 500 mil reais mensais da Fundação Padre Anchieta, que mantém a TV Cultura. O salário da jornalista, segundo consta em contrato, é de R$ 22 mil mensais, conforme ela e a própria emissora confirmaram ao Aos Fatos.

Além disso, afirmar que o governo do estado de São Paulo paga o salário de Magalhães é uma maneira de distorcer a despesa pública: parte da verba da TV Cultura é pública, mas esse dinheiro é determinado pela LOA (Lei Orçamentária Anual), que deve ser aprovada pelos deputados estaduais. A fundação Padre Anchieta é uma entidade de direito privado com autonomia intelectual, política e administrativa.

Atualização. A TV Cultura afirmou, em nota lida durante o Jornal da Cultura, que o salário da jornalista é pago por meio de anúncios veiculados na emissora.

As peças de desinformação sobre o salário de Vera Magalhães (veja aqui) têm circulado nas redes desde que os deputados estaduais Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP) discursaram sobre o assunto na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). A fala dos deputados também foi impulsionada por meio de publicações dos deputados federais Bia Kicis (PSL-DF) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Posts com as informações falsas sobre o salário de Magalhães acumulam, em duas horas, mais de 2.000 compartilhamentos nas redes sociais. Todas as publicações foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona).


FALSO

Em discurso na Alesp na tarde desta sexta-feira (20), os deputados estaduais Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP) reservaram um tempo de sua fala para dar “informações a respeito da jornalista Vera Magalhães”. Na ocasião, alegaram que a jornalista receberia R$ 500 mil do governo estadual “para falar mal do governo Bolsonaro”. Após o discurso, passou a circular nas redes que esse seria o salário mensal de Magalhães, mas, conforme o contrato mostra, a jornalista recebe R$ 22 mil por mês.

Como consta do contrato de Vera Magalhães publicado no perfil oficial da jornalista, ela recebe R$ 22 mil mensais e está contratada do dia 2 de janeiro de 2020 até o dia 31 de dezembro de 2022. No total, portanto, Magalhães receberá R$ 792 mil no final do contrato de três anos.

Em tweet, a jornalista afirmou que a fala dos deputados é criminosa e não passa de uma “intimidação barata”. Magalhães disse ainda que irá processar os deputados que publicaram a desinformação.

O diretor de jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, afirmou ao Aos Fatos que a remuneração de Magalhães segue um teto imposto no começo da atual gestão da emissora, que instituiu o salário máximo de cerca de R$ 22 mil a jornalistas da casa — valor esse que regula com os vencimentos do governador do estado. A duração do contrato obedece regras internas de controle orçamentário da fundação.

Segundo Serva, os contratos dos jornalistas da TV Cultura são enviados e auditados pelo Tribunal de Contas do Estado, que tem prerrogativa de divulgá-los. Também segundo ele, o salário de Vera Magalhães foi informado aos deputados pela emissora quando eles demandaram a abertura deste dado.

Algumas postagens dizem ainda que o salário de Vera Magalhães seria de responsabilidade do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o que é uma distorção. A TV Cultura, que é da Fundação Padre Anchieta, de fato recebe dinheiro público do Estado, mas essa verba é prevista na LOA (Lei Orçamentária Anual), que é votada pelos deputados estaduais. Segundo a LOA 2020, a despesa do Tesouro do Estado prevista com a fundação neste ano é de R$ 102 milhões.

Vale destacar que o projeto de lei que definiu a LOA 2020 e, portanto, a quantia destinada a Fundação Padre Anchieta neste ano, foi votada em 2019 e aprovada por 71 votos a 13. Votaram a favor do texto quase todos os deputados eleitos pelo PSL, inclusive Douglas Garcia e Gil Diniz. O único que não aprovou o texto foi o Delegado Bruno Lima (PSL), que estava em obstrução.

Críticas a João Doria. As publicações sugerem também que a jornalista seria paga para criticar o governo de Jair Bolsonaro ao mesmo tempo que elogia o governo do Estado de São Paulo. Ao observar as publicações de Magalhães, é possível verificar, no entanto, que ela já criticou Doria após assumir o Roda Viva.

No dia 15 de março, por exemplo, a jornalista questionou a demora do governador em anunciar o fechamento do Bom Prato, que, segundo ela, é “um potencial foco de transmissão de coronavírus”:

em fevereiro, Magalhães compartilhou uma matéria da Folha de S.Paulo sobre o governo estadual ter censurado livros destinados à leitura de penitenciários.

Referências:

1. Governo de São Paulo
2. Alesp
3. Folha de S.Paulo


Esta checagem foi atualizada às 19h26 do dia 20 de março para corrigir uma informação. O contrato de Vera Magalhães com a TV Cultura é de três anos; por isso, no final, ela terá recebido R$ 792 mil, e não R$ 528 mil, conforme dito anteriormente.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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