🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Como a desinformação sobre cloroquina se multiplicou no Twitter após aval de Bolsonaro à droga

Por Bárbara Libório e Bruno Fávero

25 de março de 2020, 19h31

O alcance de publicações enganosas sobre o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19 cresceu no Twitter depois que o presidente Jair Bolsonaro anunciou, no sábado (21), o aumento da produção da droga, mostra levantamento do Radar Aos Fatos com base nos 50 conteúdos mais compartilhados da rede social sobre o assunto. Nos dois dias anteriores à fala de Bolsonaro, predominavam alertas para que as pessoas evitassem comprar o medicamento desnecessariamente e peças de desinformação somavam apenas 8% do total de compartilhamentos dos tweets mais populares. Depois do anúncio, as publicações enganosas pularam para 45% dos compartilhamentos desse grupo, aumentando o alcance de desinformação como a de que a droga tem eficácia comprovada contra a Covid-19.

Veja e baixe o relatório completo desta análise.

O interesse geral pelo medicamento nas redes também cresceu nos últimos dias, de acordo com dados do Twitter e do Trends, ferramenta que analisa as buscas do Google. Além do discurso de sábado, contribuiu para esse aumento nas buscas as manifestações do presidente americano Donald Trump, na quinta-feira (19), e o pronunciamento de Bolsonaro na terça (24), quando voltou a falar sobre o assunto.

A droga – já usada para tratar malária, lúpus e artrite – tem sido testada em vários países no combate à Covid-19, mas ainda não tem eficácia comprovada e seu uso não é recomendado por autoridades médicas. Bolsonaro e Trump têm promovido essa substância como possível cura para a doença depois que estudos preliminares, feitos em um número pequeno de pacientes, mostraram indícios de que, associada à azitromicina, ela pode ser eficaz contra o vírus.

Na última semana, houve uma corrida para comprar o medicamento. No Brasil, já há relatos de desabastecimento de cloroquina em ao menos cinco estados; no exterior, há casos de intoxicação pelo remédio nos EUA e na Nigéria.

A desinformação no Twitter

Aos Fatos comparou os 50 tweets em português mais compartilhados sobre cloroquina e hidroxicloroquina nos dois dias antes e depois da fala de Bolsonaro no sábado (21). O levantamento mostra que, antes de o presidente se manifestar, apenas seis dessas postagens (12%) eram desinformação. A maior parte do conteúdo era de apelos para que as pessoas parassem de comprar os medicamentos sem necessidade, como o tweet abaixo, o mais compartilhado em 19 e 20 de março.

Depois que o presidente se pronunciou, a desinformação ganhou mais espaço e 16 tweets (32%) com informações falsas ou descontextualizadas chegaram a ficar entre os 50 mais compartilhados. Sete desses tweets enganosos citavam diretamente Bolsonaro.

O alcance da desinformação também aumentou depois do discurso do presidente. Antes de o presidente brasileiro se manifestar, os tweets com desinformação ou dados descontextualizados somavam 8% do total de compartilhamentos entre as postagens mais populares. Nos dois dias seguintes ao seu vídeo, somavam 45%.

Em números absolutos, os compartilhamentos de posts enganosos entre os 50 tweets mais compartilhados sobre o assunto também cresceu. Foi de 3.347 antes da fala de Bolsonaro para 14.569 depois, aumento de 335%.

Foram consideradas desinformação publicações que traziam informações falsas, como a de que os EUA liberaram o tratamento com cloroquina (o país apenas permitiu a realização de testes), ou que tinham informações factualmente corretas, mas descontextualizadas. Por exemplo, este tweet, que cita um estudo francês sobre o uso de cloroquina contra o novo coronavírus, mas omite que apenas 20 participantes da pesquisa foram tratados com a droga e que ainda não há comprovação científica da efetividade do tratamento.

Todo o conteúdo dos tweets analisados e suas respectivas classificações podem ser acessados aqui. Os links para as publicações foram omitidos para preservar a identidade dos autores.

Mais interesse

O destaque dado por Bolsonaro e Trump aos derivados de cloroquina também fez com que o interesse por essas drogas disparasse nas buscas do Google e no Twitter.

No dia 19 de março, o presidente Donald Trump mencionou o medicamento pela primeira vez. Em coletiva à imprensa e também nas redes sociais, o americano determinou que a FDA, entidade reguladora de medicamentos do país, acelerasse o processo de aprovação para potenciais terapias que tenham efeito contra a Covid-19, citando especificamente a droga antimalária hidroxicloroquina. Foi o suficiente para que as buscas pelo termo "hidroxicloroquina" no Google tivessem seu grande pico.

Dois dias depois, foi a vez de Jair Bolsonaro ir ao Twitter anunciar a ampliação da produção de cloroquina pelos laboratórios do Exército brasileiro. Disse ainda que o Brasil deverá manter o estoque do medicamento, e que a produção nacional não será vendida a outros países. Logo após a postagem do vídeo de anúncio, as buscas pelo termo "cloroquina" tiveram seu maior pico.

Bolsonaro voltou ainda a falar sobre o medicamento em seu último pronunciamento em rede nacional, na noite da última terça-feira (24). As buscas pelo termo no Google voltaram a crescer, ainda que em menor proporção, mas foi no Twitter que, após sua fala, as menções aos termos "hidroxicloroquina" e "cloroquina" tiveram seu maior pico desde o dia 19 de março.

Referências:

1. Aos Fatos 1, 2 e 3
2. Núcleo Jornalismo
3. Folha de S. Paulo
4. O Globo
5. Estadão
6. Méditeranée Infection

Veja e baixe o relatório completo desta análise.

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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