🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Julho de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Aos Fatos faz três anos com três novidades na manga

Por Tai Nalon

7 de julho de 2018, 02h00

Há três anos, Aos Fatos ia ao ar com a ambição de restabelecer o diálogo perdido entre leitores e políticos ao separar fato de ficção no discurso público. Nesse período, a equipe cresceu de dois para dez colaboradores; de zero para mais de 1.500 checagens publicadas; de zero para três principais fontes de financiamento. Entretanto, o saldo neste 7 de julho de 2018 ainda é preocupante.

Como disse em junho passado o diretor da IFCN (International Fact-Checking Network), Alexios Mantzarlis, "uma nuvem negra paira sobre nós". A fala do diretor da entidade norte-americana que agrega checadores do mundo inteiro servia de alerta para tempos difíceis: "o descontentamento e a desconfiança que atormentam a mídia tradicional estão atingindo os checadores". Não só no Brasil, mas também em outros países, esta técnica jornalística que se presume isenta e plural tem sido alvo de ataques de políticos e de extremistas de ambos os lados do espectro político. A preocupação é única: anular de maneira irreversível aquela tentativa de diálogo preconizada na criação do Aos Fatos.

A crescente radicalização não impediu que o número de iniciativas de checagem de fatos crescesse. Até fevereiro deste ano, de acordo com o Reporters' Lab da Universidade Duke, nos Estados Unidos, havia 149 projetos de checagem ativos em 53 países — o triplo em relação há quatro anos.

Grandiosos, os números são cortina de fumaça para uma atividade tanto necessária quanto pouco rentável. No mês passado, encontraram-se em Roma 42 plataformas de checagem de todos os continentes. Todavia, 26 delas operaram em 2017 com um orçamento abaixo de US$ 100 mil (cerca de R$ 386 mil). Aos Fatos é uma dessas iniciativas.

A fragilidade financeira dessas plataformas não impediu que elas fossem alçadas à presunçosa função de arbitrar a verdade factual nas redes sociais. Também não foi entrave para que assumissem protagonismo político na luta contra uma das epidemias do nosso tempo histórico: a da desinformação. Assim, criou-se um problema de assimetria entre o ofício e a expectativa em torno dele.

Na Europa, mesmo subfinanciados e sobrecarregados, checadores de fatos foram instados a cooperar em reuniões de alto nível para estabelecer diretrizes de combate a boatos inflados pelas redes sociais. Já no Brasil, viraram alvo do ódio de políticos cujos vencimentos anuais superam com folga os supracitados US$ 100 mil.

Em vez de construir políticas públicas de ampliação do acesso à informação e à educação para a mídia, legisladores têm preferido usar seus mais de R$ 400 mil anuais para agendar reuniões, audiências e sessões que defendem a intimidação de jornalistas, a violação da liberdade de expressão e a criminalização da produção de notícias falsas. As eleições deste ano devem impor uma folga à sanha autoritária de alguns projetos de lei que tentam resolver o problema da desinformação, mas o assunto não morrerá com o fechamento das urnas.

Ao completar esses intensos três anos de história, Aos Fatos prega serenidade. Esta plataforma pretende fazer sua parte e construir estratégias transformadoras para uma sociedade bem informada. Não há mistério: a ideia é aliar jornalismo, tecnologia e educação para, passadas as eleições, investir em tecnologia educacional para a mídia, por meio de publicações digitais, aplicativos, plug-ins e robôs educativos. Aos Fatos acredita que só com a tecnologia é possível municiar jovens com as melhores ferramentas de identificação de conteúdo confiável. Este site está aberto a parcerias nesse sentido.

Antes de tantos planos para o futuro, porém, vamos aos fatos? O título deste texto promete três novidades em comemoração aos três anos deste site. Nesta e nas próximas três semanas, Aos Fatos deve publicar nas redes uma série de iniciativas cujo objetivo é promover transparência e ampliar o nosso alcance. Veja, abaixo, quais são elas.

1. @fatimabot

Na próxima semana, a @fatimabot, a robô checadora do Aos Fatos no Twitter, sairá de sua fase beta. O aplicativo mapeia na rede social links com conteúdo checado e cadastrado por Aos Fatos num banco de dados de notícias falsas ou distorcidas. Ao identificar a URL (endereço do site) desse conteúdo problemático, @fatimabot dispara uma resposta para o perfil que compartilhou a URL com o link para a informação correta: a checagem do Aos Fatos. Desse modo, todos aqueles usuários do Twitter que foram expostos a uma informação falsa também terão acesso à informação verificada.

A iniciativa, mesmo em fase de teste, já tem resultados relevantes. Até este 7 de julho, em menos de um mês, @fatimabot havia detectado a distribuição de 625 links com notícias falsas. Ao menos 30 usuários deletaram o tweet com a informação falsa como resultado do alerta emitido pela robô. Há até mesmo usuários satisfeitos com o alerta.

2. Manual Aos Fatos de Checagem

Produzido pela equipe de editores do Aos Fatos, o Manual Aos Fatos de Checagem é a primeira edição do nosso manual de redação e será lançado nas próximas semanas. A publicação será digital, de livre distribuição e trará dezenas de páginas explicativas com todos os procedimentos adotados pela equipe editorial do Aos Fatos ao checar uma informação. O objetivo é tornar a rotina da redação deste site mais clara para o nosso leitor mais exigente.

O Manual Aos Fatos de Checagem vai abordar desde o processo de escolha de uma informação a ser checada até o tratamento editorial final. Também publicará parâmetros mais objetivos para a escolha dos selos de classificação de informações, deixará claro com quantas fontes se constrói uma checagem robusta e quais os procedimentos adotados durante uma cobertura em tempo real.

3. Fátima no Messenger

Fátima é nosso chatbot para Messenger, fruto de uma colaboração do Aos Fatos Lab com o Facebook Journalism Project. A partir da segunda quinzena de julho, Fátima dará dicas sob demanda sobre checagem e verificação de fatos por meio do aplicativo de mensagens do Facebook. Bastará acioná-la na página do Aos Fatos na rede social ou procurar por Aos Fatos no aplicativo do Messenger para começar a conversar.

Quer saber como checar uma informação em vídeo? Fátima vai poder ajudar. Quer saber identificar uma notícias falsa? Fátima vai saber orientar. Quer entender a diferença entre notícia e opinião? Fátima terá a resposta.


Com essas iniciativas, Aos Fatos acredita estar na vanguarda do combate à desinformação nas redes sociais ao mesmo tempo em que presta contas ao seu leitor mais entusiasta. O objetivo dessas experiências é, a longo prazo, tornar o consumidor de informações online mais maduro, de modo que ele tenha autonomia para saber o que é verdadeiro e o que é falso nas redes sociais e, com isso, tomar decisões bem informadas.

Aos Fatos acredita também que a melhora do ambiente informativo passa por mais transparência. Precursor na tarefa de separar fato de ficção no discurso público, também é nossa função listar o que são nossos feitos, de modo que não haja suspeita ou conspiração sobre a nossa capacidade organização, nosso financiamento e nossa conduta.

Fatos importam. Veja, abaixo, uma boa lista deles.

OS SUCESSOS DO ÚLTIMO ANO

  • Por meio do Aos Fatos Lab, firmamos uma parceria com o Facebook Journalism Project para desenvolver um dos braços de inteligência artificial do Aos Fatos: o chatbot Fátima.
  • Também na seara da automação, ganhamos um prêmio de R$ 100 mil para desenvolver a versão da Fátima para o Twitter. A @fatimabot distribui checagens para todos aqueles perfis que compartilharem uma URL com conteúdo falso ou distorcido.
  • Iniciamos uma parceria com o Facebook para verificar conteúdo marcado por usuários como potencialmente falsos. O projeto tem hoje 26 veículos envolvidos em mais de dez países com o objetivo de combater a desinformação na rede social.
  • Renovamos nossa certificação pela IFCN (International Fact-Checking Network) após uma auditoria que reconheceu nosso compromisso com apartidarismo, transparência e correção.
  • Em parceria com a mesma IFCN, lançamos no Dia Internacional da Checagem, em 2 de abril, um manual ilustrado em formato HQ com dicas de verificação voltadas a jovens. "Fábio Fato não dá mole para notícias falsas" foi traduzido para o inglês, o espanhol, o italiano, o francês e o suaíli.
  • Com uma checagem que desmentia boatos sobre a vereadora Marielle Franco, morta em março deste ano, tivemos mais de um milhão de acessos em nosso site em apenas um fim de semana e contribuímos para diminuir a disseminação de desinformação sobre o caso.
  • Em parceria com o Volt Data Lab, produzimos uma investigação inédita sobre consumo de notícias online. Verificamos que leitores desconfiam das informações que recebem via ferramentas como o WhatsApp, mas não checam.
  • Por meio do Aos Fatos Lab, firmamos uma parceria com a revista Nova Escola para o projeto Mentira na educação, não!, com checagens temáticas sobre as políticas públicas educacionais no país.
  • Seguimos de vento em popa com o UOL, nosso primeiro parceiro editorial, para checar o que os candidatos às eleições 2018 andam falando por aí.
  • Ampliamos nossas equipes editorial e de tecnologia. Hoje somos sete jornalistas e três desenvolvedores — alguns em meio período e outros com carga horária completa. Quando foi lançado, em 7 de julho de 2015, Aos Fatos tinha apenas dois integrantes.
  • Usamos as redes sociais como catalisadores de audiência: criamos um perfil bem sucedido no Instagram, com mais de 2,5 mil seguidores. Acumulamos desde 2015 mais de 47 mil curtidas na nossa página do Facebook e 143 mil seguidores no Twitter.
  • Repercutimos em veículos nacionais e internacionais, sobretudo para dar dicas de checagem e comentar a crise de desinformação acentuada pelas redes sociais.

OS DESAFIOS DO ÚLTIMO ANO

  • Aos Fatos considera ter alcançado entre 2017 e 2018 um número inédito de pessoas com suas checagens. No entanto, não conseguiu superar a barreira de resistência de alguns leitores à checagem de fatos como consequência da forte polarização política que se impõe no país. Por conta disso também, foi alvo de campanha de ódio e perseguição nas redes sociais.
  • Aos Fatos se percebe um produtor de conteúdo de excelência, mas ainda não amadureceu seu método para dar conta de verificar o número incomensurável de inverdades produzidas e reproduzidas na internet — e suas nuances. Não raro, é difícil chegar a um consenso interno sobre qual selo dar a uma determinada declaração. Apesar disso, esta equipe entende a limitação dos nossos recursos editoriais e tenta encontrar soluções para eles. Acreditamos que nossos leitores não estão suficientemente cientes desse esforço cotidiano. Sabemos também que comunicar esse esforço não nos isenta de intenso escrutínio.
  • Estivemos perto de fechar em meados do segundo semestre de 2017. Embora Aos Fatos não siga um modelo lógico de lucro, pois absolutamente todos os recursos geridos são reinvestidos em pessoal e estrutura, em setembro de 2017 este site esteve próximo de não conseguir cobrir seus próprios custos. Foi, contudo, circunstancial: a partir de outubro daquele ano, firmou novas parcerias, que permitiram que a equipe fosse ampliada e a estrutura, mantida.

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