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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Fevereiro de 2024. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Estudo mostra que desinformação de políticos é minoritária, mas barulhenta

Por Tai Nalon

2 de fevereiro de 2024, 13h37

Aviso: este texto é uma análise e foi publicado originalmente na newsletter O Digital Disfuncional.


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#25 | 🗯️ Quantidade não é qualidade

Um estudo sobre desinformação nas redes sociais financiado pela Meta demonstrou que menos de 1% de publicações compartilhadas por políticos no Twitter, no Facebook e no Instagram entre 2018 e 2020 continham informações falsas. No entanto, também mostrou que, quando contêm falsidades, esses conteúdos ganham mais atenção e engajamento do que aqueles com informações que não foram classificadas como falsas.

Essas e outras conclusões foram publicadas nesta semana no Journal of Quantitative Description: Digital Media, produzidas por um grupo multinacional de pesquisadores, incluindo brasileiros.

Embora os números pareçam vistosos para quem prefere acreditar que as mentiras compartilhadas por autoridades nas plataformas digitais não são um problema tão urgente, a realidade diz o contrário:

  • no período, publicaram de 421 a 38.695 posts com informações incorretas, a depender do método de análise;
  • políticos compartilham mais desinformação do que a média dos usuários; suas publicações com informações erradas recebem mais visibilidade e engajamento;
  • têm, com raras exceções, passe-livre para publicar desinformação, de acordo com as políticas dessas plataformas.
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Foram analisadas 4 milhões de publicações de 945 políticos brasileiros a partir de uma base com 4.050 tipos de boatos que circularam entre 2018 e 2020. Três metodologias de predição de desinformação foram usadas: uma que comparou os posts com checagens de fatos produzidas por várias organizações, incluindo o Aos Fatos; outra que comparou a mesma base com uma lista de domínios de sites que comumente disseminam desinformação; e outra com URLs de páginas do Facebook que regularmente publicam informações falsas.

Os dois primeiros métodos são baseados em checagens publicadas por organizações como Aos Fatos. O primeiro, em uma lista de publicações específicas analisadas por checadores. O segundo, em uma lista de domínios de sites que publicaram informações falsas, mas não só.

É importante prestar atenção a isso porque a metodologia baseada em sites, em vez de publicações verificadas, também engloba conteúdo hiperpartidário que não é necessariamente considerado falso por meio da checagem de fatos, embora esses mesmos sites possam conter informações distorcidas.

A depender do método, os pesquisadores afirmam que de 15% (146) a 50% (478) dos perfis de políticos analisados compartilharam desinformação ao menos uma vez. “Essas estimativas indicam que uma parcela grande de políticos publicam desinformação em comparação com usuários regulares de redes sociais na população geral — a partir de uma amostra de origem nos Estados Unidos, concluiu-se que 8,5% dos usuários comuns de redes sociais já haviam compartilhado desinformação”, escrevem.

A pesquisa também reforça o que outros experimentos já atestaram: publicações contendo informações incorretas, embora pouco frequentes, recebem mais engajamento dos usuários do que publicações sem informações incorretas. Segundo os pesquisadores, publicações com desinformação recebem em média 10 vezes mais engajamento do que publicações aparentemente corretas. O mesmo vale para o número de visualizações, que tende a ser maior em média e de acordo com a mediana.

De posse dessas informações, eu me pergunto por que o usuário comum das redes, em média menos inclinado a compartilhar desinformação, deve obedecer a regras mais rígidas de moderação de conteúdo do que seus representantes. Isso vale para a política de combate à desinformação de plataformas como a Meta, mas também vale para o projeto de lei 2.630/2020, que estende a imunidade parlamentar para as plataformas digitais.

Em um universo de 4 milhões de publicações, 1% representa um volume significativo de informação. Ao mesmo tempo, porém, o percentual enfraquece o argumento de que o combate formal à desinformação nas plataformas digitais viola frontalmente a liberdade de expressão.

O próprio estudo ressalta a necessidade de se compreender melhor como diferentes tendências políticas influenciam o debate nas redes. Se os números da desinformação parecem pequenos diante da torrente de conteúdo das redes — apesar de terem exposição uma dezena de vezes maior que outras publicações —, o objetivo principal não deve ser combater nem premiar os políticos, mas enfraquecer todo o sistema que incentiva a enganação.

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